Os feudalismos de hoje. A matéria que se vai seguir é polémica já que expõe a minha visão sobre o caso de Ermelo.
Inicío dizendo que me repugna o assassinato e que espero que a justiça não seja branda com o assassino.
Deixando esta primeira observação avanço para o caso, não com o ponto de vista judicial, mas antes sociológico/antropológico e do político.
Do que me foi dado ouvir às pessoas quer de um lado quer do outro e mesmo das autoridades, nas reportagens das televisões e nos jornais, sou obrigado a concluir que estamos perante um caso que nada tem a ver com a política, quanto muito terá a ver com a disputa pela liderança de uma população, sendo que a política, aqui, era um elemento acessório e não fundamental.
O 24horas (esta edição online tem um erro, já que a pág. 13 versa ainda a mesma matéria) dizia mesmo que as desavenças vinham do tempo da tropa.
Antes de Abril, os senhores eram o regedor, o pároco, cabo da GNR e o senhor da cidade que tinha casa na aldeia.
Com a democratização da sociedade o leque dos senhores alargou-se. Entraram mais profissões e, inevitavelmente gente com mais dinheiro.
A máxima de que em terra de cegos, quem tem olho é rei, é uma verdade inquestionável.
O grande problema destas tricas nas aldeias é que a guerra não se queda somente pelos intervenientes directos. Estes fazem questão de arregimentar outros elementos para as suas barricadas, elementos que são alheios a tudo, mas que de uma forma ou de outra são obrigados a terçar armas pelos seus "senhores".
Transportando isto para as eleições autárquicas recentes, gostaria de salientar que em Ermelo estão criadas as condições para existirem problemas.
Perante tudo o que se passou o PS retirou a sua candidatura, ficando só a do PSD. Como é evidente a lista do PSD ganhou e a viúva da pessoa assassinada é a presidente da junta.
Mas terá esta senhora condições de exercer o cargo? Claro que não.
Penso que o melhor que podia e devia ter acontecido era o PSD ter retirado a sua lista (estou consciente que se a situação fosse ao contrário o PS também não retirava).
Ermelo precisava de uma junta liderada por uma comissão, presidida por um juiz. A magistratura não pode servir só para ter cargos no futebol.
É forçoso pacificar a povoação e esta solução não contribui em nada para isso.
Chorem-se os falecidos, castiguem-se os culpados, mas salve-se a povoação.
Para terminar deixo-vos uma pequena nota sobre a votação nesta freguesia.
Os membros da mesa de Ermelo foram substituídos por pessoas que vieram de Vila Real e existiram mais que muitas reclamações.
Algumas delas prendem-se com o facto de algumas pessoas não poderem votar por familiares, tendo uma habitante dito alto e bom som "sempre votei pela minha mãe e hoje não me deixaram".
É assim a democracia eleitoral por esse interior fora.
O feudalismo é isto mesmo.
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