O que importa estender a banda larga a todo o território nacional ou criar caixas de correio electrónicas se algumas mentalidades se arrastam pelos tempos da Idade Média.
Vem isto a propósito das afirmações proferidas por Fernando Ruas, presidente da Câmara Municipal de Viseu e ao mesmo tempo presidente da Associação Nacional de Municípios.
O referido senhor disse, durante a Assembleia Municipal ocorrida ontem, aos presidentes de junta de freguesia do concelho que corressem “à pedrada” os inspectores do Ministério do Ambiente que fiscalizam e multam as obras realizadas pelas juntas de freguesia.
Embora ele hoje tenha tentado dar a volta à questão, o facto é que são declarações muito graves e que merecem total reprovação.
Mas se merecem total reprovação, de igual forma merecem atenção.
Primeiro: as afirmações não foram produzidas como se de um vulgar cidadão se tratasse: foram proferidas enquanto presidente da câmara e dentro do próprio edifício;
Segundo: Fernando Ruas não é tão só presidente da Câmara Municipal é também presidente da Associação Nacional de Municípios, o que agrava mais a situação;
Terceiro: (sem conhecimento de nenhum caso concreto) gostaria de dizer que a função de autarca é ingrata e isto porque não é possível agradar a gregos e a troianos, mesmo assim é uma função cobiçada.
E quando digo cobiçada é porque os portugueses (não todos) ainda mantém alguns resquícios de mentalidade arcaica e que pedra basilar da administração do Estado Novo.
O presidente de junta, o pároco e o regedor eram as figuras chaves de uma administração decrépita que quer Salazar, quer Caetano muito bem aproveitaram para fazer perdurar um sistema verdadeiramente combalido.
Se é verdade que o período pós 25 de Abril de 74 foi pródigo num agitar de consciências, não é menos verdade que em muitas zonas esse agitar se perdeu e regressou ao passado, sendo que isto se verificou em zonas mais do interior, embora algumas zonas do litoral também não sejam imunes a este fenómeno.
Pois bem a figura do presidente da junta readquiriu um estatuto que não condiz com a função propriamente dita.
E se existem muitos (esses que me desculpem) que olham em seu redor, outros há que enveredam pelo acessório desprezando o essencial, preferem aquilo que vulgarmente se designa por "encher o olho" do que o que realmente faz falta.
Aliado a isto existe ainda a cultura do facilitismo.
O facilitismo é uma doença que com muita frequência ataca os portugueses. E fá-lo sem escolher idades, classes e ocupações.
Ora sendo assim não é de admirar que se cometam atropelos escandalosos que tenham de ser punidos.
Esteve mal o senhor presidente da Câmara Municipal de Viseu e mais mal ficou quando tentou desculpar-se, sem no entanto ter um pedido de desculpas para os ditos técnicos que ele pretende que os outros corram à pedrada.
Finalmente. O Ministério da Educação vai abrir no próximo ano lectivo um concurso para acreditar sociedades científicas e departamentos universitários para avaliarem os manuais escolares, antes da sua comercialização.
Aplaudo inteiramente, sendo que é uma decisão que só peca por tardia e nada mais.
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