Antes de falar do livro "Eleições Viciadas", tenho de ir a um outro tema: o caso Charrua (nem de propósito Zé). Também agora deixo aqui o artigo de João Miguel Tavares no DN de hoje, tal como tinha feito no comentário de 31 de Julho pp.
No artigo de hoje diz-se que Fernando Charrua confirma ter chamado "filho da puta" ao primeiro-ministro, só que diz o senhor que não foi na DREN, mas sim num restaurante.
Para mim pouco me importa o local. Até podia ter sido dentro Seminário de Vilar que era a mesma coisa.
O que está aqui em causa é que o disse e como tal por uma questão de ética e de boa educação deveria apresentar um pedido público de desculpas.
Mas não. O que é que faz? Numa atitude de hipocrisia decide quer quer uma indemnização e regressar ao antigo posto.
Nem indemnização nem antigo posto coisa nenhuma, aliás o senhor não tem estatuto moral para exercer a profissão de professor e mais, é desprestigiante para a classe dos verdadeiros professores.
Gostaria que ele e todos aqueles que ficaram chocados com a sua suspensão (Mário Nogueira da FENPROF, Marques Mendes, Portas e tantos outros, políticos e não políticos) me explicassem como é que este senhor é capaz de manter disciplina numa sala de aula ou mesmo tecer considerações sobre ética ou moral?
Mais, como é que eu como pai me sinto ao constatar que o meu educando pode ter um professor deste quilate.
De que me vale ensinar as regras da boa educação ao meu filho se ele na escola vai encontrar um professor que não se coibe de num lugar público chamar "filho da puta" ao primeiro-ministro do seu país.
Isto não tem que ver com liberdade, está mais para além disso. Isto tem a ver com a boa educação.
Ontem assistimos a mais um triste episódio da saga Millennium bcp. Esperava-se que o vetusto e belíssimo monumento da Alfândega do Porto provocasse algum discernimento aos responsáveis daquela instituição.
Lamentavelmente nada disso aconteceu e devido a um problema informático o conflito entre Jardim Gonçalves e Teixeira Pinto continua com todos os inconvenientes que daí advêm. O único que parece gostar desta comédia é Joe Berardo e vá-se lá saber porquê.
Mas regressando ao Millennium bcp importa referir que este desmando já está a ir longe de mais. Aliás apesar de estarmos perante um banco privado, julgo ser dever do Banco de Portugal puxar dos seus galões e fazer valer o seu peso, quanto mais não seja para salvaguardar os microaccionistas.
Para quem tinha a imagem de que o Millenium bcp era o que de mais inovador existia em matéria de novas tecnologias, o problema informático de ontem em conjunto com os problemas informáticos já registados na assembleia geral efectuada a 28 de Maio, quando algumas das votações realizadas não batiam certo com o número de accionistas presentes, arrasa por completo. Passa a vigorar a ideia de um banco velho que persiste em alimentar jogos de poder e isto, queiramos quer não, a manter-se provoca mossa, sendo que, e porque se trata do maior banco privado português, a mossa não o atinge somente a ele, pode ter repercussões em todo o sector bancário.
Chegou-se a um ponto de não retorno e Paulo Teixeira Pinto não tem mais condições para continuar no Millennium.
Dito que está isto, vamos ao livro. "Eleições viciadas? O frágil destino dos votos. Autáquicas de 2001 em Lisboa" de João Ramos de Almeida é um livro que decerto despertará dois sentimentos: amor e ódio.
Amor a todos aqueles que vêem as eleições livres como o acto maior e supremo da democracia, a todos os que pugnam pela verdade, pela liberdade e aos que corajosamente dão a conhecer estes factos tão sombrios.
A todos os que vivem na e para a mentira, aos que só existem para a trapaça, aos que não olham a meios para obter os seus fins este livro provoca ódio porque lhes descobre a "careca".
Para além destes há um conjunto de pessoas e instituições que devem estar com ódio deste livro, já que ele transcreve as suas declarações que, em muitos casos são perfeitas aberrações e uma autêntica fuga para a frente demonstrando um imenso pavor por alguém ter mexido no tema.
Nesta última categoria posso incluir Pedro Pinto do PSD que faz um show off que ninguém percebe e que determina a viragem no resultado; Helena Roseta (na altura independente, como as coisas são) que abandona a direcção de campanha em cima das eleições; Cunha Nabais que desencadeia uma situação (com 3 versões saliente-se) complicada em Marvila; José Rodrigues dos Santos, da RTP, que a certa altura debita números que não tinham fonte oficial; Santana Lopes também não deve ter gostado que se soubesse do episódio descrito no final da página 49 e relativo à tomada de posse; o Tribunal Constitucional que deu ordens à CNE para transcrever, mesmo que estejam mal, os dados fornecidos pelas actas de apuramento (pg. 52); a CNE, o STAPE e o Diário da República, já que cada um deles teve números diferentes (a Tabela 12 da pg 147 informa que os votantes nos cadernos eleitorais eram 312.161, nas actas das secções de voto eram 312.416, no STAPE 312.391 e no DR 311.482); a Procuradoria Geral da República que não foi capaz de perceber que os dados estavam viciados e que quando percebeu não teve a coragem de ir para a frente e investigar; o juiz Rui Torres Vouga da segunda assembleia de apuramento (pgs. 167-180); e porque não devo estender-me muito mais deixo aqui um excerto da pg. 150 que ilustra bem e faz sentir o quanto é urgente a compra e a posterior leitura da obra em causa:
"O STAPE, mais uma vez de forma estranha, aumenta o erro, anunciando mais outros 28 votantes. Os resultados da assembleia de apuramento geral, em vez de esclarecerem esses aumentos, "criaram" mais 401 votantes, dos quais 419 na lista de Pedro Santana Lopes.
Ao todo, as assembleias de apuramento geral criaram 623 votantes sobre os números que constavam das actas das seccões de voto. E tratou-se de algo generalizado. Houve 27 freguesias em que se verificaram alterações realizadas pelas assembleias de apuramento geral no número de votantes para a Câmara e Assembleia Municipais, ou seja, em 51% do universo concelhio.
Quando solicitados a pronunciarem-se sobre esta realidade, os dois directores do STAPE mostraram-se apreensivos. Sorriram em silêncio, sem dar explicações. Quase encolheram os ombros..."
Entretanto a autarquia foi vítima das múltiplas vicissitudes que culminaram recentemente em eleições intercalares, sem que se possa responsabilizar quem seja por essas vicissitudes neste hiato de tempo que mediou entre 2001 e 2007.
À portuguesa pois então....
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