segunda-feira, 8 de setembro de 2008

“A alfabetização é o melhor remédio”

Este foi o tema escolhido para assinalar o Dia Mundial da Alfabetização que hoje se comemora.

Mensagem do Sr Koichiro Matsuura, Director-Geral da UNESCO, por ocasião do Dia Mundial da Alfabetização, 8 de Setembro

Passada mais da metade da Década das Nações Unidas para a Alfabetização, lançada em 2003, um em cada cinco jovens e adultos com idade superior a 15 anos não possui as mais elementares competências necessárias para ler uma placa de rua, um livro infantil, um mapa, um jornal, nomes em uma cédula de voto ou instruções em uma bula de remédio. Em um mundo cada vez mais impulsionado pelo conhecimento e pela tecnologia, um total de 774 milhões de adultos é analfabeto. Estamos longe da meta de reduzir para metade o número de pessoas analfabetas no mundo todo até 2015. Apesar de as taxas de alfabetização terem aumentado, o número absoluto de analfabetos tem se tornado maior em algumas regiões devido ao crescimento populacional. Isto representa uma verdadeira ameaça para o desenvolvimento humano.
Este ano, o Dia Internacional da Alfabetização enfatiza a importância sobre as conexões entre alfabetização e saúde. Hoje, as maiores preocupações relacionadas à saúde não podem ser adequadamente enfocadas a menos que a alfabetização encontre um lugar central nas políticas e estratégias de saúde pública. Uma pessoa analfabeta é simplesmente mais vulnerável a problemas de saúde e menos apta a procurar ajuda médica para si, seus familiares ou para a sua comunidade. Quase dez milhões de crianças morrem antes de completar 5 anos de vida, a maior parte das vezes de doenças infecto-contagiosas que podem ser prevenidas, e são os filhos dos mais pobres que são menos assegurados de tratamento no caso de doenças graves. O risco de contrair malária - doença que consome mais de um milhão de vida todos os anos - é significativamente maior entre populações analfabetas, com os níveis de escolaridade tendo um impacto directo nos comportamentos orientados pela melhoria da saúde. Mulheres que já concluíram o Ensino Fundamental são cinco vezes mais aptas a conhecer informações sobre o HIV e AIDS do que as analfabetas. Esta é a razão pela qual as Metas de Desenvolvimento do Milénio directa ou indirectamente relacionadas com a saúde – erradicação da extrema pobreza, promoção da igualdade entre géneros, redução da mortalidade infantil, melhora da saúde materna, combate ao HIV e à malária – não podem ser alcançadas sem a dimensão da alfabetização.
Alfabetização relaciona-se ao empoderamento. Ela aumenta a consciência e influencia o comportamento de indivíduos, famílias e comunidades. Além disso, melhora as habilidades de comunicação, dá acesso ao conhecimento e desenvolve a autoconfiança e auto-estima necessárias para se tomar decisões. Uma mulher que participa de um programa de alfabetização terá um melhor conhecimento sobre saúde e planeamento familiar. Ela provavelmente adoptará mais medidas preventivas de saúde para si e para seus filhos, procurará mais facilmente ajuda médica e utilizará os serviços clínicos disponíveis; finalmente, ela será capaz de seguir instruções médicas com mais facilidade a fim de assegurar um tratamento adequado para si e para seus parentes. Em suma, alfabetização é um poderoso, ainda que muitas vezes renegado, remédio às ameaças para a saúde, com o potencial de promover melhor nutrição, prevenção e tratamento de doenças.
Os vencedores do Prémio Internacional de Alfabetização UNESCO 2008 oferecem exemplos inspiradores de como a alfabetização impacta fortemente na construção de sociedades saudáveis. A Organização Não-Governamental "Kwanibela Project", da África do Sul, oferece uma abordagem inovadora para a integração de conhecimentos sobre HIV e AIDS em programas de alfabetização. O programa da Zâmbia "Reflect and HIV", organizado pelo Fórum de Acção Popular, é notável por suas actividades culturais em línguas maternas. O programa brasileiro "Alfabetizando com saúde" mostra os benefícios de uma colaboração bem-sucedida entre os órgãos municipais de saúde e de educação da cidade de Curitiba. O programa atende às pessoas com diferentes doenças crónicas, permitindo-lhes cuidar de si próprias e quebrar o sentimento de isolamento. Na Etiópia, o programa "Literacy Plus", destinado às mulheres das zonas rurais, aumentou a utilização das redes sociais de luta contra a malária.
Estas práticas de alfabetização bem-sucedidas e inovadoras mostram que, quando a saúde está em jogo, a alfabetização tem um papel importante a desempenhar.
A UNESCO está activamente empenhada em encorajar os países a adoptar políticas explicitamente voltadas para a alfabetização e construídas sobre o valioso trabalho que muitas vezes é conduzido pela sociedade civil. Várias iniciativas, incluindo a Iniciativa de Alfabetização para o Empoderamento (LIFE), uma série de seis conferências regionais de alto nível sobre alfabetização em 2007-2008 e a Sexta Conferência Internacional de Educação de Adultos (CONFINTEA VI), a ser realizada em Belém, no Brasil, em Maio de 2009, sinalizam um novo momentum.
Mas esta é apenas a iminência de uma mudança. Para isto é essencial que os países apresentem maior liderança e aumentem os financiamentos para a alfabetização, e que os doadores atribuam à alfabetização uma maior importância entre os projectos que necessitem de ajuda. Existe uma necessidade urgente de aumentar programas de aprendizagem de jovens e adultos, melhorar a sua qualidade, e desenvolver um ambiente favorável onde os alfabetizandos de todas as idades sejam incentivados a manter e utilizar as suas habilidades recém-adquiridas.
O desafio que estamos por enfrentar é nossa responsabilidade colectiva.

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