sexta-feira, 24 de novembro de 2006

Tenho eu e temos todos nós plena consciência de que o nosso país não podia continuar sem que fossem produzidas alterações profundas.
Claro que sou de opinião que se estas mesmas alterações tivessem sido introduzidas há alguns anos e não de forma tão abrupta estaríamos, por certo, num outro rumo e mais aliviados, mas como todos foram protelando, olhando mais para a cadeira do poder que propriamente para o país, estamos agora a sofrer as consequências drásticas dessas indecisões governamentais.
Vem isto a propósito do "passeio do descontentamento" realizado ontem por elementos das Forças Armadas, sendo que lamento dizê-lo mas esta luta faz-me lembrar a greve dos magistrados e de outros sectores da vida portuguesa.
Acho que estamos perante uma situação que poderemos definir como pescadinha de cauda nos lábios.
Não é possível ao país continuar a pagar uma série de benesses que foram sendo atribuídas como forma de aquietar o poder de uns, os desejos de outros, enfim, benesses que uma grande parte sustenta para uma pequena. Custa-me perceber o porquê do estado subsidiar tantos subsistemas de saúde, sendo que esse subsídio não é uniforme. Custa-me a perceber que as progressões nas carreiras não estejam dependentes de avaliação. Seria curioso que o sector privado actuasse da mesma forma nas carreiras (ao fim de poucos anos uma empresa deixaria de ter operários para possuir simplesmente chefes, assessores, directores, etc. e etc.
Mas não fique a ideia de que estou de acordo com tudo, porque não é verdade. Por exemplo existem duas ou três coisas de que discordo no Estatuto da Carreira Docente e que forçosamente devem ser revistas.
Mas existe um facto que me deixa desconcertado no meio de tudo isto.
Ontem o líder da comissão organizadora do "passeio do descontentamento" fez um apelo ao Governo para que "faça a leitura que se impõe" perante a "afirmação inequívoca" das centenas de militares que se juntaram no Rossio.
Este líder e outros estão no seu pleno direito de dizerem isto. Mas será que este e outros líderes ao lerem as sondagens não se poderão questionar sobre quem está errado: se eles se o Governo?
Não é por nada mas a mais recente sondagem diz que o PS em Novembro subiu 1,4 por cento relativamente a Outubro, tendo agora 43,4% das intenções de voto, ou seja está no limiar da maioria absoluta.
É uma situação paradigmática.

Outra situação paradigmática é a que se vive no grupo de deputados do PCP.
Ainda a situação do presidente da Câmara de Setúbal a quem o PCP retirou confiança política e obrigou a abandonar a autarquia não estava bem digerida por quantos votaram CDU em Setúbal devido ao cabeça-de-lista e já o PCP se mete em nova argolada, agora com deputados.
Luísa Mesquita, Odete Santos e Abílio Fernandes foram "empurrados" para fora da Assembleia.
A primeira, porque não gosta de empurrões viu ser-lhe retirada a confiança política. Quanto aos outros dois já aceitaram resignar ao cargo.
Tenho para mim que o PCP perde duas grandes deputadas que sem sombra de dúvida possuem maiores capacidades que o próprio líder da bancada. E se o PC perde duas deputadas, o povo português perde na Assembleia duas grandes consciências críticas.
Claro está que a história da renovação está mal contada, sendo que o que mais estranho é o silêncio de Odete Santos.

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