quinta-feira, 26 de abril de 2007

Como o prometido é devido, aqui vai. Cavaco Silva decidiu inovar no seu discurso comemorativo do 25 de Abril. A inovação surgiu no facto de aproveitar o discurso para transpor para o Governo uma dose reforçada de pressão. Quando disse "vivemos um ano decisivo para realizar reformas de fundo em domínios essenciais da nossa vida colectiva" e que por isso é necessário actuar, mais não fez do que transferir o ónus para o Governo.
Mas Cavaco não se ficou só por aqui, foi mais longe.
Decidido a tomar as "dores" do inconformismo dos mais jovens pediu aos políticos para legarem às gerações futuras um "país melhor". E fez esse pedido através das seguintes palavras: " Temos de deixar aos nossos filhos e netos um regime em que sejamos governados por uma classe política qualificada, em que a vida pública se paute por critérios de rigor ético, exigência e competência, em que a corrupção seja combatida por um sistema judicial eficaz e prestigiado".
E qual Lancelote avançou dizendo que é primordial que se verifique um comportamento exemplar no exercício de funções públicas, através de um maior empenhamento na "prestação de contas aos cidadãos" e sem receio de um escrutínio assegurado por meios de Comunicação Social "isentos e responsáveis".
Podemos pois inferir que Cavaco está preocupado quanto ao legado da "geração que viveu o 25 de Abril", tendo sido por isso mesmo que decidiu partilhar as suas "dúvidas e perplexidades" sobre os valores que estamos a transmitir aos jovens, as condições criadas para a sua permanência no país, o modelo de sustentabilidade do Estado Social, bem como o ambiente e os recursos naturais "que vamos deixar aos nosso filhos". Para Cavaco Silva, "os jovens têm que se rever no seu País, no País que têm e no País que ambicionam ter", sendo por isso mesmo que exclamou: "não me resigno, nem me conformo na batalha pela qualidade da democracia portuguesa".
É inegável que estas preocupações são legítimas.
Mas são legítimas hoje e eram-no quando Cavaco Silva foi primeiro-ministro (primeiro-ministro do X Governo Constitucional em Novembro de 1985, sem maioria absoluta; nas Legislativas de 1987 obtem a maioria absoluta, maioria que se viria a repetir nas legislativas de 1991, tendo assim presidido também aos XI e XII Governos Constitucionais). Convém não esquecer que se as reformas têm começado nessa altura, hoje estaríamos perante circunstâncias bem diferentes por certo. Lembremo-nos tão só de Leonor Beleza enquanto ministra da saúde, no X Governo Constitucional, que perdeu a "guerra" com o lobbie dos médicos, sendo que nunca mais regressou aquele ministério, e não recebeu apoio de Cavaco, tendo sido perdido um momento e uma protagonista fundamentais para colocar alguma ordem no sector da saúde.
Talvez por isto tudo e ao ouvir o discurso de ontem eu me questione: afinal onde estão os responsáveis por um certo de desencanto na democracia e um alheamento do 25 de Abril e do que ele representa?
Inegavelmente muitos dos responsáveis estavam ali ontem, na Assembleia da República, uns activos, outros a descansar das fadigas, mas estavam ali muitos dos culpados - e Cavaco é um deles - pelas desilusões do povo, por um desemprego que persiste em permanecer alto, por um fosso cada vez maior entre ricos e pobres, por melhores condições de vida que persistem em não aparecer, por uma saúde, uma educação e uma cultura que permanecem arredadas da maioria dos cidadãos.
Mas se os políticos são culpados e são-no com toda a certeza, nós, comuns mortais, também não estamos isentos de culpa.
Quando colocamos os nossos interesses individualistas e de classes ou grupos - o tal pseudocorporativismo quase sempre bacoco - acima do todo, estamos a negar a existência de uma sociedade mais justa e mais igualitária.

Deixo aqui o link para leitura na íntegra do discurso.

Passam hoje 70 anos do dia em que a localidade basca de Guernica foi destruída pela Legião Condor alemã, às ordens de Franco, num bombardeamento que ficou para história e foi imortalizado pelos pincéis de Pablo Picasso.
A Guerra Civil espanhola teve momentos mais sangrentos, mas nenhum deles ganhou tanto relevo a nível internacional, como quando os aviões de Hitler investiram durante mais de três horas sobre uma pequena localidade basca, com cerca de 5 mil habitantes, destruindo cerca 70 por cento dos seus edifícios. Não se sabe bem quantas pessoas perderam a vida. As fontes apontam para números que vão das 150 às 250 vítimas, para além de um incontável número de feridos.
O ataque à localidade foi feito a pedido de Franco - alegadamente na altura para destruir uma ponte estratégica (que ficou de pé) - e é conhecido como uns dos ensaios para o que viriam a ser os bombardeamentos massivos de populações civis, durante a II Guerra Mundial.
A imortalização do horror vivido na localidade, naquele dia, foi imortalizado por Pablo Picasso, em «Guernica», um dos seus quadros mais famosos, que se encontra exposto no Museu Rainha Sofia, em Madrid, contra vontade do município basco, sendo que a câmara municipal da região de Vizcaya reclama há muito a obra. A sua falta foi substituída pela exposição de um conjunto de mais de duas dezenas de esboços do pintor, que serviram para a elaboração do quadro.

Guernica (pronuncia-se garnkä) por Pablo Picasso, 1937. Museu da Rainha Sofia, Madrid


Monumento de Eduardo Chillida's em Guernica, que foi criado para comemorar o 50.º aniversário do bombardeamento da cidade em 1937.

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