Toda esta problemática do diploma do primeiro-ministro, acrescida de circunstâncias menos claras em instituições do ensino superior deverá fazer-nos pensar no ensino superior que queremos para o nosso país.
Ora esta semana é propícia para tecer aqui alguns comentários, tanto mais que na segunda-feira existiu um programa na RTP1 onde se pretendeu debater o ensino superior. Ontem saíu uma reportagem no JN, que reputo de muito importante e ontem ainda ocorreu a tal conferência que se anunciava bombástica, mas que afinal deu em nada.
Comecemos pelo "Prós e Contras" da RTP1. Se havia dúvidas que o ensino superior é um nicho de mercado deveras apetitoso, elas ficaram bem esclarecidas. Ali ficou bem explícito que as universidades privadas são o futuro e que o Estado não tem capacidade para gerir universidades e ao mesmo tempo investigá-las. Claro que esta ideia é recente, porque enquanto os hoje reitores das privadas enquanto eram professores nas públicas achavam isso uma questão de somenos importância. Também ouvi nesse mesmo programa alguns representantes das universidades privadas declararem nada ter contra os turbo-professores e que é preciso ir buscar nomes sonantes para credibilizar a instituição.
É muito natural que estes senhores nada tenham contra os turbo-professores, mas concerteza que os alunos têm. Estes professores são uma casta que nada beneficiam o ensino e nem a formação dos alunos (depois admiramo-nos dos indíces de incompetência que por aí abundam).
Gostaria igualmente de lembrar que não são os nomes sonantes que credibilizam uma instituição. Esta credibiliza-se a si própria escolhendo a trilho da honestidade, seriedade (académica e humana), um corpo docente capaz e cursos sérios que visam o futuro e não aqueles que somente servem para angariar propinas e que se revelam verdadeiras nulidades. A acrescentar a tudo isto é importante que as universidades sejam elas públicas ou privadas não podem ser abrigo para professores que mais não são do que moeda de troca política, já que a sua impreparação para leccionar é deveras gritante.
Deixemos agora a RTP1 e avancemos para o JN.
Pois bem o jornal refere o peso que têm os alunos com mais de 23 anos e sem completar o secundário que, ao abrigo da nova legislação, frequentam o ensino superior.
E aqui a questão assume outros foros mais preocupantes.
Como já todos percebemos o ensino superior é uma questão económica quer para quem ministra quer para quem recebe.
Para quem recebe, como é óbvio, porque espera com o diploma alcançar outro patamar que de outra forma não atingiria e isto porque se continua a privilegiar uma licenciatura em detrimento de um percurso laboral. Para quem ministra porque é a sua base de sustentação.
Ora o sistema de ingresso no ensino superior sem completar o 12.º ano não é de agora. O sistema tinha a designação de Exames Ad-hoc e estava previsto para pessoas com mais de 25 anos que estvam sujeitos a um exame de cultura geral de âmbito nacional, uma entrevista e provas específicas. O novo sistema prevê que a responsabilidade seja dos estabelecimentos de ensino a que o aluno se candidata.
Sem querer desconfiar ou retirar mérito a quem quer que seja e numa altura em que os estabelecimentos de ensino superior perdem alunos que colocam em causa a sua própria sobrevivência é muito natural que muitos estabelecimentos optem pelo caminho do facilitismo no sentido de angariarem o maior número possível de estudantes por forma a assegurarem a sua continuidade no mercado.
Ora isto pode acabar de vez com o ensino superior e porquê porque promove a banalização da licenciatura em detrimento da qualidade, para além de promover o facilitismo.
O que é que interessa frequentar o ensino secundário se depois dos 23 anos a entrada na universidade está garantida(?).
Não é de agora que defendo que os exames elaborados pelos diferentes estabelecimentos de ensino devem ser do conhecimento público para que se possa aquilatar qual o grau de exigência que cada um dos estabelecimentos de ensino está a impôr.
No que diz respeito à "bombástica" conferência de imprensa, julgo que ninguém percebeu o porquê do adiamento. Para dizer aquilo, mais valia estarem calados.
Agora o que importa é perceber se esta conferência não é uma fuga para a frente de um dos sectores da Universidade Independente, agora que ao que parece a Pedro Álvares Cabral está a chegar? Mas claro que pouco importa que passe a Álvares Cabral, a Diogo Cão, a Bartolomeu Dias ou a qualquer um dos muitos dos grandes navegadores que sulcaram os mares e deram novos mundos ao mundo. O que interessa é que sem subterfúgios, esquemas e outros que tais a Universidade forme as pessoas.
Talvez que tudo isto seja uma forma de mostrar ao ministro da tutela (a este e aos outros que já o foram ou aos que estão para vir) que para licenciar uma universidade (ou um outro estabelecimento de ensino) não basta que tenha grandes instalações, que seu corpo docente abundem os turbo-professores ou os professores de renome (os tais que só emprestam o nome e cuja presença física é escassa ou mesmo nula), que não seja mero depósito de políticos cuja competência para dar aulas advém do cargo que ocupam e não das suas capacidades e que não seja uma mera listagem de cursos que nda contribuem para o desenvolvimento sério do país.
Para concluir era fundamental que os estabelecimentos de ensino não olhassem para os seus alunos como cifrões, mas como alguém que se esforça (nem todos é certo) por adquirir formação.
Sem comentários:
Enviar um comentário