sexta-feira, 18 de abril de 2008

Menezes caiu. Pois é, ontem derrotado por quase todos e por si próprio, rendeu-se à evidência e saltou da liderança do PSD.
Sobre os companheiros que lhe fizeram a folha não vou falar, já que falei disso durante os comentários que fui fazendo aos seus seis meses de liderança.
Mas Menezes não pode vitimizar-se acusando só os outros, é preciso que olhe bem para si.
Quem é que permitiu uma liderança bicéfala?
Quem é em vez de mostrar as diferenças entre o PSD e o PS se propôs de imediato a assinar acordos governativos?
Quem é que mandou às malvas o compromisso eleitoral do PSD de referendar o Tratado de Lisboa?
Quem é que disse que o PSD ainda não merece governar?
Quem é que violou todos os pactos assinados pelo PSD e inclusive vota contra legislação proposta pelo partido (a legislação autárquica entre outras), apenas para não afrontar determinados grupos?
Quem é que dizia hoje uma coisa e horas depois uma coisa diferente?
Quem é que se fechou em copas sobre o absurdo de fechar um congresso do PSD-Madeira à comunicação social?
Quem é que cerrou os lábios e não comentou o absurdo ataque que Jardim fez aos deputados da oposição madeirense?
Quem é que propôs alterações à Constituição, ainda por cima elaboradas por Alberto João.
Quem é que permitiu o ataque baixo e indecoroso a Fernanda Câncio?
Foi tanta coisa junta em tão pouco tempo e já nem vou para o partido empresa e as quotas em dinheiro.

E agora. E agora eu penso que Menezes está à espera de uma vaga de fundo (Marco António deu ontem o tiro de partida para essa vaga na RTP1) que o traga de novo ao poder e se tal acontecer muitos que se preparem pois a porta da rua será a serventia da casa.
E a vaga não pode ser atirada definitivamente para o lixo e porquê, porque foi tudo um pouco estranho e até mesmo o silêncio ensurdecedor de Santana Lopes faz com que tudo seja possível e admissível.
Mas se a vaga de fundo for só uma simples ondulação então teremos uma equação de onze incógnitas:

Pedro Santana Lopes: é o líder derrotado nas últimas legislativas, sendo certo que nunca chegará ao poder com Cavaco como Presidente da República. Santana só regressou à política para ajustar contas pelo tempo que foi primeiro-ministro.

Manuela Ferreira Leite: a “dama de ferro” portuguesa como muitos lhe chamam é um comandante de um exército inexistente, mas isso não a impede de ser capaz de comandar os exércitos dos outros generais. A sua passagem pelo governo não deixou saudades quer como ministra da Educação, quer como ministra das Finanças onde recorreu às vendas de dívidas e de património de má memória. Se porventura vencesse seria como que um regresso do cavaquismo, assim como a sua derrota será o fim definitivo do cavaquismo.

António Borges: o economista iluminado tem agora hipóteses de ser candidato, já que a Goldman Sachs já era. Mas Borges tem um grande senão, tal como Vitorino no PS, na altura de avançar hesita e entre a política e um bom emprego, manda a política às malvas.

Aguiar Branco: é o ex-ministro da Justiça de Durão Barroso e é outro que tem hesitado na altura de avançar. Desta vez, e impelido vá-se lá saber porquê ou por quem decidiu avançar, sendo que tem um grande contra: é tão conhecido dos portugueses como o director da orquestra de Berlim, para além do seu discurso político me fazer lembrar Carlos Carvalhas, ex-secretário geral do PCP.

Marques Mendes: decidiu ganhar dinheiro numa empresa de um grande barão do PSD e será louco se decidir regressar.

Pedro Passos Coelho: é uma incógnita muito séria. Começou na JSD (onde se diz ter sido o melhor dirigente que os juniores alguma vez tiveram). Foi, em 1995, um dos estrategas da candidatura (falhada) de Durão Barroso à liderança do partido. Teve a audácia de "roubar" a distrital de Lisboa a Pacheco Pereira e depois afastou-se. Regressa com Marques Mendes, de quem chega a ser vice-presidente mas, mais tarde, bate com a porta, discordando dos métodos do então líder do PSD. Neste momento é uma incógnita devido ao apoio que granjeou de Ângelo Correia (há mesmo quem diga que o regresso à política activa por parte do barão do PSD tinha por finalidade preparar o caminho para Passos Coelho. Esperemos hoje pelo que vai dizer.

Rui Rio: o autarca do Porto pretende mudar-se de armas e bagagens para Lisboa, mas não a qualquer preço, para além de saber que faz parte do grupo de desejados por parte de várias correntes do PSD. Só que ainda não decidiu se esta é a sua hora.

Luís Filipe Menezes: deseja regressar e com tal forma que lhe permita fazer uma limpeza séria na São Caetano à Lapa. Pacheco Pereira dizia ontem na “Quadratura do Circulo” na SICNotícias que têm estado a entrar dezenas e dezenas de militantes para as diversas secções do partido e este será o busílis da questão: enquanto Aguiar Branco, Passos Coelho e outros vêm para as televisões e para os jornais, vão entrando para o PSD pessoas que definem as vitórias e as derrotas. Se Menezes perceber e deve ter percebido que pode ser reconduzido, não foge a uma recandidatura.

Cavaco Silva: apesar de já se ter percebido que se está marimbando para o PSD, é claro que ele faz tudo por tudo para que o populismo quer de Menezes, quer de Santana estejam o mais longe possível da liderança do partido.

Durão Barroso: está preocupado com a sua recondução em Bruxelas, mas mesmo assim não pretende que a sua linha sofra com estes devaneios do partido.

Marcelo Rebelo de Sousa: para além de se manter como comentador televisivo, não é uma carta fora do baralho até porque Deus já regressou à terra. Por outro lado não sou inocente ao ponto de dizer que nisto tudo também não há um dedo de Marcelo e saliento um dedo que pode ter sido para o bem ou para o mal.

Morais Sarmento: um dos expoentes máximos do barrosismo tem dinâmica suficiente para se meter ao barulho e baralhar ainda mais este jogo. E este sim, ainda mais que Passos Coelho, será a grande e verdadeira incógnita.

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