segunda-feira, 21 de abril de 2008

A viajem fez-lhes mal. Decorreu no fim-de-semana e continuam hoje em Ponta Delgada, na ilha de São Miguel, nos Açores, as Jornadas Parlamentares do PCP.
Nada de anormal, não fosse uns deslizes que penso não serem por acaso.
O primeiro está relacionado com Vitalino Canas.
Diz o PCP, pela boca de Bernardino Soares, que vai propor à comissão parlamentar de Ética que analise o que considera ser a situação de incompatibilidade do deputado socialista e também porta-voz do Partido Socialista Vitalino Canas, por este ser também provedor das empresas de trabalho temporário. O líder parlamentar dos comunistas diz ainda que Vitalino, enquanto provedor das empresas de trabalho temporário, em nome de instituições privadas, está a negociar com organismos do Estado, como a secretaria de Estado das Comunidades e Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), pelo que «é manifestamente uma matéria que cai dentro das proibições ao nível dos impedimentos dos deputados e merece a atenção da comissão de ética».
Talvez fosse interessante que o PCP tivesse ido à página da APESPE e verificasse o que é um Provedor do trabalhador temporário. Ficava-lhes bem.
Mas o PCP não se limitou a Vitalino Canas, estendeu-se a Jorge Coelho.
Estou perfeitamente à vontade para falar nisso, já que expressei aqui a minha posição quanto ao caso de Coelho e ao caso de Ferreira do Amaral, sendo que não sou um grande fã destas movimentações. Mas embora não sendo não percebo este ataque do PCP.
Dizem os comunistas que deve alargado de três para cinco anos o prazo para impedir um ex-governante de exercer funções em empresas que tutelou.
Que eu saiba Coelho cumpriu um período de sete anos...

Preciso de voltar à entrevista de Mário Crespo a Luís Filipe Menezes na sexta-feira passada. É urgente que o ex-presidente do PSD diga de quem foram os telefonemas que recebeu para não avançar com investigações às off-shores, ao Banco de Portugal, para estar quieto e não mexer em vários assuntos e quem são os militantes do PSD que andam a mendigar assessorias nas Câmaras Municipais.
Penso que pelo bom nome da democracia e do não à corrupção que o PSD tanto defende esses nomes devem ser públicos, e vou mais longe, penso ser urgente que a Procuradoria Geral da República chame Menezes para que ele comprove o que disse e assim se possam limpar mais uma série de figuras vampirescas e quejandas que polulam no espaço que é de todos.

A carta. Anda por aí no ar uma carta que possui contornos deveras estranhos. Num texto de opinião publicado por Anónio Barreto no "Público" de 13 de Abril é abordado um livro de nome Holocausto em Angola, cujo autor é Américo Cardoso Botelho.
O texto de António Barreto é o seguinte:

Angola é nossa!
Só hoje me chegou às mãos um livro editado em 2007, Holocausto em Angola, da autoria de Américo Cardoso Botelho (Edições Vega). O subtítulo diz: “Memórias de entre o cárcere e o cemitério”. O livro é surpreendente. Chocante. Para mim, foi. E creio que o será para toda a gente, mesmo os que “já sabiam”. Só o não será para os que sempre souberam tudo. O autor foi funcionário da Diamang, tendo chegado a Angola a 9 de Novembro de 1975, dois dias antes da proclamação da independência pelo MPLA. Passou três anos na cadeia, entre 1977 e 1980. Nunca foi julgado ou condenado. Aproveitou o papel dos maços de tabaco para tomar notas e escrever as memórias, que agora edita. Não é um livro de história, nem de análise política. É um testemunho. Ele viu tudo, soube de tudo. O que ali se lê é repugnante. Os assassínios, as prisões e a tortura que se praticaram até à independência, com a conivência, a cumplicidade, a ajuda e o incitamento das autoridades portuguesas. E os massacres, as torturas, as exacções e os assassinatos que se cometeram após a independência e que antecederam a guerra civil que viria a durar mais de vinte anos, fazendo centenas de milhares de mortos. O livro, de extensas 600 páginas, não pode ser resumido. Mas sobre ele algo se pode dizer.
O horror em Angola começou ainda durante a presença portuguesa. Em 1975, meses antes da independência, já se faziam “julgamentos populares”, perante a passividade das autoridades. Num caso relatado pelo autor, eram milhares os espectadores reunidos num estádio de futebol. Sete pessoas foram acusadas de crimes e traições, sumariamente julgadas, condenadas e executadas a tiro diante de toda a gente. As forças militares portuguesas e os serviços de ordem e segurança estavam ausentes. Ou presentes como espectadores. A impotência ou a passividade cúmplice são uma coisa. A acção deliberada, outra. O que fizeram as autoridades portuguesas durante a transição foi crime de traição e crime contra a humanidade. O livro revela os actos do Alto-Comissário Almirante Rosa Coutinho, o modo como serviu o MPLA, tudo fez para derrotar os outros movimentos e se aliou explicitamente ao PCP, à União Soviética e a Cuba. Terá sido mesmo um dos autores dos planos de intervenção, em Angola, de dezenas de milhares de militares cubanos e de quantidades imensas de armamento soviético. O livro publica, em fac simile, uma carta [negro da minha responsabilidade] do Alto-Comissário (em papel timbrado do antigo gabinete do Governador-geral) dirigida, em Dezembro de 1974, ao então Presidente do MPLA, Agostinho Neto, futuro presidente da República. Diz ele: “Após a última reunião secreta que tivemos com os camaradas do PCP, resolvemos aconselhar-vos a dar execução imediata à segunda fase do plano. Não dizia Fanon que o complexo de inferioridade só se vence matando o colonizador? Camarada Agostinho Neto, dá, por isso, instruções secretas aos militantes do MPLA para aterrorizarem por todos os meios os brancos, matando, pilhando e incendiando, a fim de provocar a sua debandada de Angola. Sede cruéis sobretudo com as crianças, as mulheres e os velhos para desanimar os mais corajosos. Tão arreigados estão à terra esses cães exploradores brancos que só o terror os fará fugir. A FNLA e a UNITA deixarão assim de contar com o apoio dos brancos, de seus capitais e da sua experiência militar. Desenraízem-nos de tal maneira que com a queda dos brancos se arruíne toda a estrutura capitalista e se possa instaurar a nova sociedade socialista ou pelo menos se dificulte a reconstrução daquela”.
Estes gestos das autoridades portuguesas deixaram semente. Anos depois, aquando dos golpes e contragolpes de 27 de Maio de 1977 (em que foram assassinados e executados sem julgamento milhares de pessoas, entre os quais os mais conhecidos Nito Alves e a portuguesa e comunista Sita Valles), alguns portugueses encontravam-se ameaçados. Um deles era Manuel Ennes Ferreira, economista e professor. Tendo-lhe sido assegurada, pelas autoridades portuguesas, a protecção de que tanto necessitava, dirigiu-se à Embaixada de Portugal em Luanda. Aqui, foi informado de que o vice-cônsul tinha acabado de falar com o Ministro dos Negócios Estrangeiros. Estaria assim garantido um contacto com o Presidente da República. Tudo parecia em ordem. Pouco depois, foi conduzido de carro à Presidência da República, de onde transitou directamente para a cadeia, na qual foi interrogado e torturado vezes sem fim. Américo Botelho conheceu-o na prisão e viu o estado em que se encontrava cada vez que era interrogado. Muitos dos responsáveis pelos interrogatórios, pela tortura e pelos massacres angolanos foram, por sua vez, torturados e assassinados. Muitos outros estão hoje vivos e ocupam cargos importantes. Os seus nomes aparecem frequentemente citados, tanto lá como cá. Eles são políticos democráticos aceites pela comunidade internacional. Gestores de grandes empresas com investimentos crescentes em Portugal. Escritores e intelectuais que se passeiam no Chiado e recebem prémios de consagração pelos seus contributos para a cultura lusófona. Este livro é, em certo sentido, desmoralizador. Confirma o que se sabia: que a esquerda perdoa o terror, desde que cometido em seu nome. Que a esquerda é capaz de tudo, da tortura e do assassinato, desde que ao serviço do seu poder. Que a direita perdoa tudo, desde que ganhe alguma coisa com isso. Que a direita esquece tudo, desde que os negócios floresçam. A esquerda e a direita portuguesas têm, em Angola, o seu retrato. Os portugueses, banqueiros e comerciantes, ministros e gestores, comunistas e democratas, correm hoje a Angola, onde aliás se cruzam com a melhor sociedade americana, chinesa ou francesa. Para os portugueses, para a esquerda e para a direita, Angola sempre foi especial. Para os que dela aproveitaram e para os que lá julgavam ser possível a sociedade sem classes e os amanhãs que cantam. Para os que lá estiveram, para os que esperavam lá ir, para os que querem lá fazer negócios e para os que imaginam que lá seja possível salvar a alma e a humanidade. Hoje, afirmado o poder em Angola e garantida a extracção de petróleo e o comércio de tudo, dos diamantes às obras públicas, todos, esquerdas e direitas, militantes e exploradores, retomaram os seus amores por Angola e preparam-se para abrir novas vias e grandes futuros. Angola é nossa! E nós? Somos de quem? (http://pt.no-media.info/162/holocausto-em-angola).

Cada um é livre de escrever o que quiser, só que neste caso e a fazer fé em duas crónicas de Ferreira Fernandes no DN de 15 de Abril e de hoje, a referida carta é falsa.
Ora tal como Ferreira Fernandes, também eu penso que estamos perante uma matéria demasiado séria para que possa ser tratada levianamente.
Sendo assim é urgente que tal matéria passe das colunas de jornais para a investigação e com urgência. É demasiado bárbaro o que aqui fica para que possa somente andar por aí.

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