George Agostinho Baptista da Silva nasceu no Porto a 13 de Fevereiro de 1906. Nesse mesmo ano mudou-se para Barca d'Alva, regressando ao Porto somente em 1912 para estudar.
Em 1924 entrou para a Faculdade de letras do Porto, curso de Românicas, mas transfere-se, nesse mesmo ano lectivo, para Filologia Clássica. Terminou a sua licenciatura em 1928, tendo passado a colaborar com a revista Seara Nova.
Após frequentar a Escola Normal Superior de Lisboa, partiu para Paris, em 1931, como bolseiro, tendo estudado na Sorbonne e no Collége de France.
Regressou a Portugal em 1933 tendo sido colocado no Liceu de Aveiro como professor.
É demitido do ensino oficial dois anos mais tarde, por não ter assinado a Lei Cabral.
Tendo conseguido uma bolsa do Ministério das Relações Exteriores de Espanha vai estudar para o Centro de Estudos Históricos de Madrid.
Devido á eminência da Guerra Civil Espanhola, regressa a Portugal em 1936.
É preso pela PVDE (Polícia de Vigilância e Defesa do Estado) em 1943.
Em 1944 abandona Portugal e ruma à América do Sul. Entra pelo Rio de Janeiro e, posteriormente, dirige-se a S. Paulo. No ano seguinte abandona o Brasil e instala-se no Uruguai e chegando depois à Argentina onde vive em 1946.
Regressa em definitivo ao Brasil em 1947. No Rio de Janeiro trabalha no Instituto Oswaldo Cruz, ensina na Faculdade Fluminense de Filosofia, ao mesmo tempo que colabora com Jaime Cortesão, na Biblioteca Nacional, aprofundando a obra de Alexandre Gusmão.
Integra o corpo docente da Faculdade de Paraíba (João Pessoa) em 1952, leccionando também em Pernanbuco.
Ajuda a fundar a Universidade de Santa Catarina e ensina Filosofia do Teatro na Universidade da Bahia. Em 1961 o presidente Jânio Quadros chama-o para seu assessor para a política externa.
No ano seguinte colabora na fundação da Universidade de Brasília e cria o Centro de Estudos Portugueses da mesma Universidade.
Equiparado a bolseiro da organização das Nações Unidas para a Educação a Ciência e a Cultura (UNESCO), visita o Japão em 1963. Em Tóquio dá aulas de Português.
Regressa ao Brasil e assenta arraiais entre Cachoeira e Salvador. Em Cachoeira funda a Casa Paulo Dias Adorno que, para além de Centro de Estudos é igualmente uma escola.
Porque nunca se deu bem com ditaduras, sai do Brasil em 1969 e regressa a Portugal, onde se dedica essencialmente à escrita.
Mais tarde, depois do 25 de Abril de 74, volta ao ensino: universitário por título honorífico e particular na sua casa do Príncipe Real.
Viaja, escreve, recebe medalhas e títulos, participa em programas televisivos.
Morre a 3 de Abril de 1994 em Lisboa.
Latinista e filólogo, educador e ensaísta, filósofo e tradutor, entomologista e matemático, divulgador cultural, fundador de universidades e de centros de estudos, político e lutador pela(s) liberdade(s), independente e inconformista. Detentor de espírito livre e incansável defensor da plena realização e da libertação pessoal, capaz de contagiar com a força das suas ideias, Agostinho da Silva percorreu o século XX e os cinco continentes falando do passado para expressar projectos de futuro: ver reconhecido o valor da Língua Portuguesa como veículo de união entre povos, unidos em fraternidade universal.
Agostinho da Silva é um dos mais paradoxais pensadores portugueses do séc. XX. O tema mais candente da sua obra foi a cultura de língua portuguesa, num fraternal abraço ao Brasil e aos países lusófonos. Todavia, a questão das filosofias nacionais não é para si decisiva, parecendo-lhe antes uma questão académica: "Não sei se há filosofias nacionais, e não sei se os filósofos, exactamente porque reflectem sobre o geral, se não internacionalizam desde logo".
O problema de que parte é a procura de uma razão de ser para Portugal. o que eu quero é que a filosofia que haja por estes lados arranque do povo português, faça que o povo português tenha confiança em si mesmo", entendendo por "povo português" não apenas os portugueses de Portugal, mas também os do Brasil, laçados de índios e negros, os portugueses de África, tribais e pretos, como também os da Índia, de Macau e de Timor. Embarcando num sonho universalista em que os portugueses que vivem apenas para Portugal não têm razão de ser, apresentou-se aos olhos tantas vezes desconcertados dos seus leitores como uma figura do Quinto Império, um reinado do Espírito Santo, respirando um misto de franciscanismo e de joaquimismo e, em todo o caso, obra mais de cigarras que de formigas como era próprio das crianças: "Restaurar a criança em nós, e em nós a coroamos Imperador, eis aí o primeiro passo para a formação do Império", o que é dizer que o primeiro passo dos impérios está sempre no espírito dos homens, aptos para servir, como os antigos templários ou os cavaleiros da Ordem de Cristo.
Um império sem clássicos imperadores, que leve aos povos do mundo uma filosofia capaz de abranger a liberdade porque se bate a América, a segurança económica da União Soviética e a renúncia aos bens que depois de ter estado na filosofia de Lao-tsé, diz estar também na de Mao-tsé, mas uma filosofia que as três possam corrigir, purgando a primeira de imperialismos, a segunda de burocracias e a terceira de catecismos.
É esta uma filosofia que, como Agostinho gostava de dizer, não parte imediatamente de uma reflexão sobre as ciências exactas, como em Descartes ou Leibniz, mas da fé, como acontecia em Espinosa. Partir de crenças como ponto vital e tomar como símbolo preferído que a palavra "crer" parece ter a mesma origem que a palavra "coração", fazendo depois como o Infante, abrindo-se à ciência dos seus pilotos, astrónomos e matemáticos. Tudo dito e defendido com a tranquilidade de quem sabe que até hoje ninguém desvendou os mistérios do mundo e conhece por isso os limites das soluções positivas. Assim seria possível valorizar aquilo que na visão de Agostinho da Silva nos distinguiria como povo e como cultura: um povo e uma cultura capazes de albergar em si "tranquilamente, variadas contradições impenetráveis, até hoje, ao racionalizar de qualquer pensamento filosófico".
Império do futuro precavido e purgado dos males que arruinaram os quatro anteriores, sem manias de mando, ambições de ter e de poder, sem trabalho obrigatório, sem prisões e sem classes sociais, sem crises ideológicas e metafísicas. Esse já não era o império europeu, dessa Europa ávida de saber e de poder, e por isso esgotada como modelo para os outros oitenta por cento da humanidade, menos ávida de poder e mais preocupada com o ser. Trazer por isso o Mundo à Europa, como em tempos idos levámos a Europa ao Mundo, tal a missão da cultura de língua portuguesa, construindo o seu domínio com uma base espiritual e sem base em terra, porque a propriedade escraviza e só não ter nos torna livres.
Dedicou toda a vida à liberdade do Homem e do Espírito. Fundou universidades, percorreu o país com palestras abertas a todos. Falava 15 línguas e dois dialectos africanos. Não perdia os desenhos do "Calvin" publicados no "Público".
A sua obra reparte-se por diversos domínios:
estudos clássicos: Breve ensaio sobre Pérsio, Sentido histórico das civilizações clássicas, aA religião grega;
tradução e apresentação de textos clássicos e modernos: Sófocles, Platão, Aristófanes, Lucrécio, Plauto, Terêncio, Teócrito, Catulo, Salústio, Suetónio, Tácito, Montaigne;
biografias: Pestalozzi, Francisco de Assis, Franklin, Lamennais, miguel Ângelo, Pasteur, Lincoln, Robert Owen, Washington, Leopardi, Leonardo da Vinci;
pedagogia: Sanderson e a Escola de Oundle, O método Montessori;
divulgação cultural, artística e científica: os Cadernos de Iniciação, textos para a juventude e tantos outros;
ensaísmo: Glossas, Conversa com Diotima, Parábola da mulher de Loth, Considerações, sete cartas a um jovem filósofo, Reflexão à margem da literatura portuguesa, Um Fernando Pessoa, As aproximações;
ficção: Herta-Teresinha-Joan;
Além das obras publicadas em volume, podemos encontrar um enorme volume de artigos espalhados por revistas e jornais: A Águia, Dyonisos, Seara Nova, Revista de Portugal, Pensamento, O Instituto, Boletim de Filologia, 57, Espiral, tempo Presente, O Tempo e o Modo, Cultura Portuguesa, Nova Renascença, vida mundial, Notícia, e muitos mais.
“O importante, disse-o um dia a alguém que me pedia conselho, é ser-se o que se é e tornar-se contagioso. A primeira responsabilidade que nos assiste é saber o que se é: continuo convencido de que todos nós nascemos com uma partitura na cabeça. Depois, tantas vezes, ou porque nos faltou mestre de música, ou porque não encontrámos piano à mão, vamo-nos entretendo a tocar coisas que não são da nossa partitura. Há então que fazer o esforço, individual ou colectivo, de achar o mestre e o piano que a partitura exige. Conseguido isso, devemos tornar-nos contagiosos.” Agostinho da Silva sobre tornar-se contagioso
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