quarta-feira, 15 de fevereiro de 2006

Depois admiram-se

O ministro italiano para a Reforma Institucional, Roberto Calderoli, da Liga do Norte, anunciou que mandou fazer t-shirts para usar e oferecer com os «cartoons» do profeta Maomé. A iniciativa não pretende ser uma provocação, mas sim um «convite ao diálogo verdadeiro».
Calderoli, que já na semana passada disse que o Papa Bento XVI devia apelar para uma cruzada, realça: «Há que acabar com isto e com a fábula de que faz falta procurar o diálogo com esta gente. Eles só querem humilhar-nos», insurgiu-se.
«Felizmente na Europa, há ainda dirigentes como o chanceler austríaco Wolfgang Schuessel que dizem que nós, europeus, não abandonaremos os nossos modelos de vida. Porque é preciso acabar com esta tendência de baixar as calças e com as distinções hipócritas entre o Islão terrorista e o Islão pacífico», exortou.
Pouco depois de dar a conhecer esta iniciativa, Calderoli reconheceu ter recebido uma chamada do primeiro-ministro, Sílvio Berlusconi, para que revisse a sua atitude.
Calderoli replicou que o seu anúncio e a sua decisão de usar as t-shirts era a título pessoal e não representava nem a opinião do primeiro-ministro nem a do Governo.
O ministro é conhecido em Itália pelos comentários e acções extremistas e populistas que vão desde a sua oferta de 25.000 euros como recompensa a quem der informação sobre os assassinos do empregado de uma gasolineira até à sua posição a favor da castração química dos violadores.
Calderoli, cujo partido defendeu durante anos a independência da Padania, no norte de Itália, antes de converter-se numa formação federalista, foi descrito a semana passada como «racista, machista e hooligan embriagado», depois de tentar desconsiderar a repórter israelita Rula Jebreal, numa programa de televisão chamando-a «senhora bronzeada».
Isto é nada mais nada menos que uma provocação gratuita e sem qualquer nexo.
Sou inteiramente a favor da liberdade de expressão, também se o não fosse não estaria presente neste espaço e a escrever como escrevo.
Portanto e por ser assim não me causa qualquer transtorno a publicação de caricaturas, sejam elas de Maomé, sejam elas de Jesus Cristo.
Mas também por ser assim é que não aceito o que aconteceu posteriormente à 1.ª publicação das caricaturas. E não aceito o que se verificou nos países islâmicos, como não aceito o que se passou no Ocidente.
Se nos países islâmicos se verificou uma violência inusitada e a despropósito, no Ocidente optou-se por republicar as mesmas caricaturas, tecer comentários imbecis e, por fim (será que é o fim?) estampar as caricaturas em camisolas.
Muito se tem praguejado contra os actos dos islâmicos, mas eu gostaria que os portugueses se lembrassem do que aconteceu em Portugal (e somos um país pequeno) aquando do filme "Je vous salue Marie", da caricatura do Papa com o preservativo no nariz, ou até mesmo do brado que deu "A última tentação de Cristo".
É importante que tudo seja analisado, porque fundamentalistas há-os em todo o lado.

Ainda no Oriente

E porque falamos de Ocidente e Oriente queria aqui lembrar que:
- Novas fotos de tortura no Iraque. O canal australiano SBS divulgou esta quarta-feira mais fotografias chocantes de tortura. Imagens mostram tropas norte-americanos alegadamente a torturar prisioneiros iraquianos.
A primeira imagem mostra um soldado norte-americano de joelhos em cima de um prisioneiro iraquiano nu. Ao lado do prisioneiro está uma poça do que aparenta ser sangue ou fezes.
Outras imagens mostram alegadamente um homem com a garganta cortada, outro homem com graves ferimentos na cabeça e um terceiro com a cara coberta de fezes.
Todas as imagens, divulgadas pelo canal noticioso australiano SBS, mostrarão prisioneiros iraquianos a serem torturados.
A estação televisiva australiana afirma que estas fotografias foram tiradas na mesma altura em que as imagens das torturas praticadas na prisão de Abu Ghraib em Bagdad foram divulgadas. Segundo a SBS, estas novas imagens provam que o abuso levado a cabo pelos soldados norte-americanos era muito mais generalizado do que se pensava.
- Estados Unidos estudam ataque ao Irão. O comando central norte-americano já identificou alvos e está agora a analisar questões logísticas, tendo em vista uma operação militar. O objectivo dos Estados Unidos, segundo publicou o "Sunday Telegraph", é acabar com os planos do Irão de desenvolver armamento nuclear.
Segundo o jornal, os estrategas, que estão em contacto com o gabinete do secretário norte-americano da Defesa, Donald Rumsfeld, estudam uma opção militar no caso da via diplomática não chegar para travar a vontade do Irão.
Se a isto juntarmos o vídeo que mostra soldados britânicos a espancarem civis iraquianos, o facto de os EUA e Israel estarem a preparar a suspensão de ajuda aos palestinianos, tendo em vista forçar novas eleições para derrotar o Hamas e de que a guerra no Iraque está longe do fim, veremos que são demasiadas coisas juntas a espicaçar a ira do Oriente.

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