Que estranho
Ontem ouvi duas coisas proferidas pelo líder social-democrata que me deixaram espantado, confuso, eu sei lá o quê.
A primeira prende-se com o dito pacto de regime para a justiça com que p PSD pressiona o Governo. Marques Mendes disse que "se o Governo continuar a recusar este pacto de forma arrogante, apresentaremos iniciativas concretas na altura própria”.
Ora, tanto quanto sei o líder do PSD já tinha em seu poder uma carta do ministro da Justiça, Alberto Costa, carta dirigida a todos os partidos da oposição parlamentar, propondo conversações no âmbito da reforma do Código do Processo Penal já anunciada pelo Executivo.
É estranho, não é?
A segunda prende-se com as declarações proferidas após a reunião com o sr. Procurador-Geral da República.
Marques Mendes afirmou que "o PGR é um magistrado sério e competente. Acho que é positivo para o País que as investigações judiciais que há a fazer sejam feitas com total independência e liberdade do poder político, como tem acontecido.” Acrescentou ainda o líder do PSD que “nem o Ministério Público existe para fazer política nem o Governo ou os partidos existem para se intrometerem nas investigações”.
Não coloco em causa a seriedade de Souto Moura e também sou de opinião que o ministério Público não existe para fazer política, nem os partidos se devem intrometer nas investigações.
Quanto ao resto, meus amigos paira uma grande núvem.
As investigações devem ser feitas com independência, mas também com seriedade. Quem comete asneiras grosseiras nessas investigações deve ser posteriormente chamado a contas. E mais, a Procuradoria deve possuir a "alma limpa" e, em face de tudo quanto tem acontecido, não podemos dizer que essa "alma" tenha sido lavada com Tide, Skip, ou outro qualquer detergente branqueador, antes pelo contrário, podemos é afirmar que é uma "alma" onde pontuam algumas nódoas.
Esta declaração de Marques Mendes, só acontece porque a ultima crise protagonizada pela Procuradoria (a propósito qual é o resultado do inquérito instaurado?) ocorreu em plena campanha eleitoral para a presidência e o líder do PSD nessa altura tinha de estar de distraído e calado.
Vamos à OPA
Estamos perante uma operação estranha.
Primeiro: Em 2005 foi avançado pela SONAECOM que durante este ano (2006) ia nascer a grande concorrente à PT, ou seja ia nascer uma empresa da SONAE para avançar com televisão (previam-se 100 canais), rede fixa de comunicações e internet, tudo junto.
Afinal a SONAECOM aparece agora a tentar comprar a PT.
Segundo: É no mínimo estranho que a SONAE esteja agora interessada em tornar-se monopolista da rede cabo, cobre e internet, quando tem sido uma crítica acérrima desse mesmo monopólio pela PT.
Terceiro: É o Santander, por si só, que avaliza esta operação, ou é um sindicato bancário? Se é esta última hipótese, quem são os componentes dele?
Quarto: A Telefónica não tem dinheiro para assumir a maioria da PT no seu conjunto, mas terá para uma parte. O desmembramento que acontecerá se a OPA for por diante é para dar hipótese à Telefónica?
Quinto: A PT é uma empresa portuguesa com uma posição importante a nível mundial, devido à sua globalidade. Desmembrar não é retirar-lhe capacidades de concorrência internacional?
Sexto: Talvez que este seja o mais importante. Não deverá a PT ser uma empresa de bandeira?
Tenho consciência de que caminhamos (ou talvez não) para menor Estado, melhor Estado. Mas também estou consciente de que devem existir empresas, pelo serviço que prestam, não devem sair da órbita do Estado. Incluo aqui a TAP, a CP, a EDP, a REN, as Águas de Portugal e outras que pelo serviço que prestam não podem, nem devem estar condicionadas aos apetites vorazes dos privados. A PT é uma destas.
Aguardemos pois pelo desenrolar da história.
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