Vamos lá então aos resultados das intercalares de Lisboa. Numa breve análise aos quadros comparativos das eleições de 2005 e das intercalares de ontem podemos observar o seguinte:
1.º - Todos os principais partidos perderam votos. Significa isto de que a abstenção atravessou diametralmente todos eles.
2.º - No seguimento do ponto anterior importa esclarecer o seguinte: o PS perdeu votos, mas é o vencedor incontestável, vitória que assume uma diferença de cerca de 14% para o segundo.
3.o - Assim como defino o PS como vencedor incontestável, igualmente defino o PSD e o CDS/PP como os reais perdedores destas intercalares. E são-no por razões óbvias e que os números não escondem. O PSD detinha a presidência da Câmara com 8 vereadores e agora viu-se relegado para terceira força com apenas 3 mandatos, sendo que para piorar as coisas acabou por ficar atrás do independente que em 2005 tinha conquistado a Câmara para o partido.
O CDS/PP com estas eleições perde o vereador que tinha.
Claro que aqui o caso assume maior problemática, porquanto Portas tinha apostado a sua liderança neste acto eleitoral, sendo o resultado um descalabro total.
4.º - Se quisermos ir mais além e conjugarmos a frieza dos números com as várias permissas, podem obter-se conclusões deveras interessantes:
a) a CDU sai derrotada em dois campos: nos números e no desejo de referendar o Governo. Nos números porque sabemos todos que o eleitorado da CDU é fixo e é fiel, ora entre 2005 e ontem a CDU perdeu qualquer coisa como 13.500 votos. São demasiados votos a voar. Depois a CDU pretendeu que estas eleições fossem um referendo ao Governo e também aqui falhou rotundamente. Para além destas duas derrotas e como referi ontem a CDU vê-se a braços com uma situação problemática para o futuro: o PS vence em Lisboa, sem ser necessário fazer coligações;
b) o Bloco de Esquerda tem razões para analisar os resultados. Entre estas duas deslocações às urnas o BE perde cerca de 9.000 votos, sendo que também o BE tem um eleitorado fiel. Mas há mais. Este partido fez questão de publicitar sempre que se apresentavam (o partido e o seu candidato) ao eleitorado como paladinos da justiça e que foram eles que descobriram e deram a conhecer todas as falcatruas. Para além disto sempre fizeram questão de salientar da conivência de Costa com o Governo e do PS com as anteriores gestões da Câmara e etc. e etc. Face a isto tudo não só não subiram, como ainda desceram 9.000 votos...
Concluindo: todos os que quiseram referendar a acção governativa nestas intercalares perderam, sendo que perderam o seu tempo e a eleição.
Sobre os partidos mais pequenos. Sobre estes partidos importa salientar o aumento de votação do PCTP/MRPP que entre 2005 e 2007 aumenta 500 votos, o que tomando em consideração o n.º de votantes é significativo e o caso do PNR que duplica a sua votação. Se o primeiro caso não me coloca nenhum problema, já o segundo deixa-me mais apreensivo, sendo que eu julgo que as últimas acções de propaganda (cartaz, manifestação no Martim Moniz e em Santa Comba Dão) são as grandes responsáveis.
Quanto ao PND de Manuel Monteiro, o MPT de Quartin e o PPM de Gonçalo, são perfeitamente residuais e que se não forem em coligação não chegam a lado nenhum.
Ficou também provado que Manuel Monteiro representa zero em política.
Quanto aos independentes. Curiosamente eu penso que quer Carmona Rodrigues quer Helena Roseta disputaram esta eleição por mera vingança. E se percebo que Carmona se queira vingar de Marques Mendes e do PSD e, porque não, dos outros partidos que o fizeram cair, já não entendo Helena Roseta.
Esta militante socialista comunicou ao secretário-geral do PS em Fevereiro (penso eu) de que estava disponível para ser candidata do partido à Câmara. Por variadas razões Sócrates decidiu que o candidato do PS era António Costa e muito bem.
Face a tudo isto Roseta desfiliou-se do PS e apresentou-se como candidata independente, tendo aliás atitudes que eu designo por esquisitas para com Costa e o PS durante a campanha.
Isto leva a concluir o seguinte: Roseta queria poder a qualquer custo. Para quê não sei.
Não sei porquê, mas olho para o episódio da candidatura de Alegre à Presidência e não posso deixar de vislumbrar demasiadas coincidências.
Para terminar resta-me referir que julgo o projecto de Roseta para Lisboa um verdadeiro "flop" e que a história de ir votar de bicicleta e se esquecer dos documentos é um "fait-divers" perfeitamente escusado.
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