domingo, 4 de dezembro de 2005

Não estou a perceber

Desde cedo venho dizendo que os candidatos à Presidência da República não me entusiasmaram nem entusiasmam. No entanto via em Manuel Alegre uma voz livre capaz de congregar toda a esquerda em seu redor. Com o avançar da pré-campanha fui perdendo a ilusão que criei. Foi uma falsa esperança.
As frases que lhe tenho ouvido deixam-me pasmo de espanto.
"Seguidismo, aparelhismo e carreirismo", "vejo à frente dos partidos gente muito medíocre que nunca fez nada pela democracia, enquanto fora dos partidos há pessoas de grande qualidade de que o País precisa", "só sou candidato a Presidente da República", "em caso de passagem à segunda volta, podem dormir descansados, pois não sou candidato a secretário-geral de nada", "não digo que só estou a travar fulano tal, porque esse é um erro que a esquerda comete, é preciso que se diga que eu estou nisto por um projecto concreto, por entender que o Presidente da República tem de manter a saúde e a decência da democracia", "há mais democracia para além dos partidos", "a minha esquerda é a esquerda dos valores, não é a esquerda dos interesses, porque não estamos aqui para defender quaisquer capelinhas ou directórios".
Estas frases e outras transportam-me para um tempo distante. Um tempo em que Manuel Alegre não foi cabeça de lista às legislativas pelo círculo de Coimbra e a "guerra" que daí nasceu.
Gostaria que Alegre tivesse seguido outras vias. Esta sua atitude faz-me lembrar o populismo fácil de alguns.
Para sermos coerentes julgo que as nossas palavras devem reflectir os nossos actos.
E ilustrando o que acabo de dizer deixo-vos o último parágrafo de uma notícia do DN de hoje, que reza assim:
"...
Mas a visita a Leiria revelou as duas faces de Manuel Alegre o orador, na esteira dos velhos republicanos cultos, crentes, em que "a palavra pode mudar a vida", citando Rimbaud, e o candidato avesso aos contactos. Nos 600 metros que percorreu entre o restaurante e a inauguração da sede local, Alegre cumprimentou apenas três pessoas. "

É verdade que uma imagem vale mais que mil palavras, mas há palavras e palavras...

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