"As duas meninas que morreram na madrugada de sábado, em Gaia, num incêndio quando se encontravam sozinhas em casa estavam identificadas, há sete meses, pela Comissão de Protecção de Crianças e Jovens em Perigo do concelho. O projecto apresentado pela Associação de Proprietários da Urbanização Vila d'Este (APUVD), reprovado pela Segurança Social por "insuficiência orçamental", apontava para a existência naquela urbanização de 106 "pontos críticos", incluindo os casos da Bianca Silva, de três anos, e de Daniela Vanessa Silva, de seis anos." (DN de hoje)
"Tal como a Segurança Social, também os principais políticos de Vila Nova de Gaia tinham conhecimento do teor do projecto da APUVD. Ao longo deste mês, a associação promoveu reuniões de trabalho, para apresentar o levantamento das necessidades para Vila d'Este, entre outros, com a vereadora da CDU e eurodeputada Ilda Figueiredo, com o vice-presidente da autarquia, Marco António Costa, e ainda com o vereador da Acção Social, José Guilherme Aguiar. Na ocasião, os responsáveis da APUVD apresentaram, igualmente, um novo projecto destinado a crianças e jovens, e também a pessoas vítimas de violência doméstica. Quanto ao primeiro ponto, pretende-se a melhoria das condições de vida das crianças e jovens em risco ao nível dos domínios do saber ser, saber estar e saber fazer, prevenindo situações de exclusão social. No que toca às situações de violência doméstica, o objectivo é promover a aquisição de conhecimentos das pessoas envolvidas." (DN hoje).
"Foram os próprios pais, que tinham deixado as meninas sozinhas em casa enquanto “deram um salto” ao café da associação de moradores, os primeiros a acudir às meninas, inanimadas pelo monóxido de carbono do incêndio que tinha assaltado a mal cuidada casa da família.Foi David quem as tirou do apartamento e desceu alucinadamente os sete lances de escada até ao rés-do-chão em busca do ar que devolvesse a vida às filhas. Mas era já tarde de mais. Morreram ambas por inalação de fumos. Nem uma queimadura sofreram. Na urbanização, o dia de ontem foi vivido com pesar e angústia. Pesar pela morte das duas menina; angústia porque as circunstâncias da tragédia causaram um misto de revolta e culpa colectiva.“A mãe nunca tratou mal as meninas e todos nós, vizinhos, ficamos espantados com o modo como ela vivia em casa [onde os pertences estavam acumulados como se se tratasse de uma lixeira]”, diz Raquel Abreu, apertando um pouco mais a sua filha Tatiana. “Parece que os ouviam discutir na rua e em casa, mas com as meninas não há testemunhos de violência.”" (Correio da Manhã, hoje).
"Os números colocam Vila Nova de Gaia, com excepção dos principais centros urbanos, no topo dos municípios com mais crianças e jovens em perigo, seguida da Moita com 484 e Almada com 481. Segundo o mesmo relatório, verificou-se na maioria dos distritos do País uma discrepância entre a disponibilidade dos técnicos e o número mínimo de horas de trabalho necessárias para a intervenção, segundo os próprios critérios das Comissões de Protecção de Crianças e Jovens. De acordo com o número de crianças abrangidas pela comissão de Gaia, 603, os técnicos deveriam dispensar 70 por cento da semana – sete manhãs ou sete tardes – para o acompanhamento.
Por outro lado, e segundo os mesmos dados, o número de casos de crianças entregues a si próprias triplicou entre 2002 e 2004, passando de 21 para 61.
O CASO DE CATARINA
Apesar de o Ministro do Trabalho e da Solidariedade Social, Vieira da Silva, ter garantido ontem que as duas crianças mortas num incêndio em casa, na passada sexta-feira em Gaia, não tinham sido consideradas casos de risco pelos serviços sociais locais, o caso trouxe à memória a trágica morte da pequena Catarina, vítima de maus tratos. Recorde-se que foi a Comissão de Protecção de Menores e Jovens em Risco de Vila Nova de Gaia que, em Agosto de 2003, ordenou que a criança, de 30 meses, – então à guarda da Associação de Solidariedade e Acção Social de Santo Tirso – fosse entregue ao pai. Dois meses depois, em Outubro, Catarina foi encontrada morta em casa, em Ermesinde.
O pai e a tia foram condenados a 14 anos de prisão, em Novembro de 2004. O juiz Cardoso Amaral considerou que “os arguidos se comportaram de forma selvagem, desumana e horrenda”". (Correio da Manhã, hoje)
É preocupante o número de casos que estão a acontecer com as Comissões de Protecção de Jovens em Risco. E é preocupante porque o final dos casos tem implicações graves nas crianças.
Algo está a falhar. É urgente detectar os pontos de falha para terminarmos com isto de uma vez por todas.
Mas para além disto gostaria de afirmar que a violência não se traduz somente na parte física. O abandono é uma violência que não pode nem deve ficar impune.
Para terminar deixo as palavras de José Guilherme Aguiar:
"O vereador da Acção Social da Câmara de Gaia, José Guilherme Aguiar, reconhece que o País deve assumir um “alerta geral amarelo”, decorrente dos problemas sociais “causados pela crise económica”, e que no caso de Vila d’Este a situação é de “alerta vermelho”. “Não quero alijar responsabilidades nem assobiar para o ar, a culpa desta tragédia é de todos nós, Governo, autarquias, cidadãos. A autarquia já definiu o bairro onde morreram as irmãs como de intervenção prioritária. “Que este sacrifício não tenha sido em vão”, lamenta ao CM o vereador." (Correio da Manhã, hoje)
Sem comentários:
Enviar um comentário