quarta-feira, 21 de dezembro de 2005

O debate

Estava indicado como o debate mais importante da pré-campanha para as presidenciais e quem o acompanhou não viu as suas expectativas sairem defraudadas.
Soares e Cavaco apresentaram-se com estratégicas opostas. Enquanto Mário Soares teve uma postura de ataque desde o primeiro minuto, Cavaco, hiperdefensivo, esteve sempre mais preocupado em evitar os reptos que Soares lhe enviava.
Mas esta hiperdefesa traduziu-se num discurso vazio, contrastando com Soares que esteve vivo e fluente.
Cada um por si tinha metas diferentes a cumprir.
Soares pretendia dizer que é o melhor repesentante da esquerda para derrotar o adversário, já Cavaco pretendia dar mostras de como é moderado e continuando silencioso no que respeita à sua verdadeira actuação em Belém quis somente consolidar os votos de um centro flutuante.
Mas todos percebemos qual será a forma de actuação de cada um.
Não tenhamos a menor dúvida que Cavaco vai protagonizar um governo paralelo.
As suas "ajudas" serão conflitualidades com o Governo.
Para além de tudo isto existe algo que não devemos descurar: o tom professoral.
Cavaco apresentou-se como o professor, aquele que sabe tudo, aquele que fala do alto da sua cátedra para uma cambada de burros, e tanto é assim que por duas ou três vezes utilizou as expressões "por exemplo" ou "eu explico". Fica-lhe mal essa arrogância, sendo que não são qualidades fundamentais para se ser um bom presidente da república, antes pelo contrário.

Mas nem só de política

Mas nem só de política vive este espaço.
Assinalam-se hoje duzentos anos da morte de Bocage.

Manuel Maria de Barbosa l´Hedois Du Bocage (Setúbal, 1765 - Lisboa, 1805), poeta português e, possivelmente, o maior representante do arcadismo lusitano. Embora ícone deste movimento literário, é uma figura inserida num período de transição do estilo clássico para o estilo romântico que terá forte presença na literatura portuguesa do século XIX.
Nascido em Setúbal a 15 de Setembro de 1765, falecido em Lisboa a 21 de Dezembro de 1805. Era filho do bacharel José Luís Soares de Barbosa, que foi juiz de fora, ouvidor, e depois advogado, e de D. Mariana Joaquina Xavier l’Hedois Lustoff du Bocage, cujo pai era francês.
Sua mãe era segunda sobrinha da célebre poetisa francesa, madame Marie Anne Le Page du Bocage, tradutora do Paraíso de Milton, imitadora da Morte de Abel, de Gessner, e autora da tragédia As Amazonas e do poema épico em dez cantos A Columbiada, que lhe mereceu a coroa de louros de Voltaire e o primeiro prémio da academia de Rouen.
Apesar das inúmeras biografias publicadas após a sua morte, uma boa parte da sua vida permanece um mistério. Não se sabe que estudos fez, embora se deduza da sua obra que estudou os clássicos e as mitologias grega e latina, que estudou francês e também latim. A identificação das mulheres que amou é muito duvidosa e discutível.
A sua infância foi infeliz. O seu pai foi preso por dívidas ao Estado quando ele tinha 6 anos de idade e permaneceu na cadeia seis anos. A sua mãe faleceu quando ele tinha dez anos. Possivelmente ferido por um amor não correspondido, assentou praça como voluntário em 22 de Setembro de 1781 e permaneceu no Exército até 15 de Setembro de 1783. Nessa data, foi admitido na Escola da Marinha Real, onde fez estudos regulares para guarda-marinha. No final do curso desertou, mas, ainda assim, aparece nomeado guarda-marinha por D. Maria I. Nessa altura, já a sua fama de poeta e versejador corria por Lisboa.
Em 14 de Abril de 1786, embarcou como oficial de marinha para a Índia, na nau “Nossa Senhora da Vida, Santo António e Madalena”, que fez escala no Rio de Janeiro (finais de Junho) e na Ilha de Moçambique (início de Setembro) e chegou à Índia em 28 de Outubro de 1796. Em Pangim, frequentou de novo estudos regulares de oficial de marinha. Foi depois colocado em Damão, mas desertou, embarcando para Macau. Estranhamente, não foi punido e deverá ter regressado a Lisboa em meados de 1790.
A década seguinte é a da sua maior produção literária e também o período de maior boémia e vida de aventuras. Ainda em 1790 foi convidado e aderiu à Academia das Belas Letras ou Nova Arcádia. Mas passado pouco tempo, escrevia já ferozes sátiras contra os confrades. Em 1791, foi publicada a 1.ª edição das Rimas. Dominava então Lisboa o Intendente da Polícia Pina Manique que decidiu pôr ordem na cidade, tendo em 7 de Agosto de 1797, dado ordem de prisão a Bocage por ser “desordenado nos costumes”. Ficou preso no Limoeiro até 14 de Novembro de 1797, tendo depois dado entrada no calabouço da Inquisição, no Rossio. Aí ficou até 17 de Fevereiro de 1798, tendo ido depois para o Real Hospício das Necessidades, dirigido pelos Padres Oratorianos de São Filipe Néry, depois de uma breve passagem pelo Convento dos Beneditinos. Durante este longo período de detenção, Bocage mudou o seu comportamento e começou a trabalhar seriamente como redactor e tradutor. Só saiu em liberdade no último dia de 1798.
De 1799 a 1801 trabalhou sobretudo com Frei José Mariano da Conceição Veloso, um frade brasileiro, politicamente bem situado e nas boas graças de Pina Manique, que lhe deu muitos trabalhos para traduzir. A partir de 1801 até à morte viveu em casa por ele arrendada no Bairro Alto.

Bibliografia:
Elegia que o mais ingenuo e verdadeiro sentimento consagra á deploravel morte do ill.mo e ex.mo sr. D. José Thomaz de Menezes, etc., seu autor M. M. B. B., Lisboa, 1790; Queixumes do pastor Elmano contra a falsidade da pastora Urselina; ecloga, Lisboa, 1791; Idyllios maritimos recitados na Academia das Bellas Letras de Lisboa, pelo socio M. M. de B. du B., Lisboa, 1791; 2.ª edição em 1821; e 3.ª em 1825; Rimas de Manuel Maria de Barbosa du Bocage, tomo I, 1791; Segunda edição correcta e augmentada, Lisboa, 1800; 3.ª edição, 1806, 4.ª edição, em 1834; Eufemia ou o triumpho da religião: drama de Mr. de Arnaud, traduzido em versos portuguezes, Lisboa, 1793; Nova edição, Rio de Janeiro, 1811; novamente impressa em Lisboa, em 1819, em 1825 e 1832; anda também no tomo IV das obras poeticas; Elogio poetico á admiravel intrepidez, com que em domingo 24 de Agosto de 1794 subiu o capitão Lunardi no balão aerostatico, Lisboa, 1794; As chinellas de Abu‑Casem, conto arabico, Lisboa, 1797; Historia de Gil Braz de Santilhana, traduzida em portuguez, tomo I, Lisboa, 1798; 2.ª edição, idem, 1800, com os tomos II, III e IV. 0 tomo I e a continuação até pág. 116 do tomo II, foram vertidas por Bocage; o resto até ao fim da obra, é tradução de Luís Caetano de Campos; Rimas de M. M. de B. du Bocage, dedicadas à amizade; tomo II, Lisboa, 1799; 2.ª edição, 1802; 3.ª, em 1813, 4.ª edição, não se sabe a data, e a 5.ª em 1843; Os Jardins, ou a arte de aformosear as paizagens: poema de Mr. Delille, traduzido, etc., Lisboa, 1800; reimpresso no Rio de Janeiro, em 1812; Canto heroico sobre as façanhas dos portuguezes na expedição de Tripoli: por José Francisco Cardoso, traduzido, etc., Lisboa, 1800; reimpresso no Rio de Janeiro em 1811; Elegia a D. Rodrigo de Sousa Coutinho, traduzida do latim de José Francisco Cardoso, Lisboa, 1800; Elogio aos faustissimos annos do serenissimo Principe Regente nosso senhor, Lisboa, 1801; As Plantas: poema de Ricardo Castel, traduzido, etc., Lisboa, 1801, com estampas e o original francês em frente; reimpresso no Rio de Janeiro em 1811, e depois em Lisboa, em 1813; O consorcio das Flôres: epistola de Lacroix a seu irmão, traduzida, etc., Lisboa, 1801, com estampas e o texto latino; reimpresso no Rio de Janeiro, 1811, e depois em Lisboa, 1813; Aos annos faustissimos do serenissimo Principe Regente de Portugal (Elogio): composto por M. M. de B. du Bocage, e dedicado por Simão Thaddeo Ferreira, Lisboa, 1802; Elegia á morte de Anselmo José da Cruz Sobral; saiu com outras poesias de diversos autores num folheto, com o título: Eccos saudosos ouvidos na capital portugueza, na passagem a melhor vida do ill.mo conselheiro, etc., recolhidos, e oferecidos a seu illustre filho, Lisboa, 1802; Galathéa: novella pastoril, imitada de Cervantes por Florian, e traduzida em portuguez, etc., Lisboa, 1802; reimpressa em 1816, e depois no Rio de Janeiro, em 1836; Rogerio e Victor de Sabran, ou o tragico efeito do ciume; traduzido, etc., Lisboa. 1802, reimpressa em 1806, e depois em 1819; Epicedio na sentida morte do ill.mo e ex.mo sr. D. Pedro José de Noronha, marquez de Angeja, etc., offerecido ao ill.mo e ex.mo sr. conde de Villaverde, Lisboa, 1804; Poesias de M. M de B. du Bocage, dedicadas á ill.ma e ex.ma sr.a Condessa de Oyenhausen, tomo III, Lisboa, 1804; 2.ª edição, 1806, 3.ª, não se sabe a data; e 4.ª em 1842; Magoas amorosas de Elmano: idyllio, Lisboa, 1805; reimpresso em 1821, e em 1824; A gratidão: elogio dramatico, para recitar Claudina Rosa Botelho no dia do seu beneficio, Lisboa, 1805; A saudade materna: idyllio, Lisboa, 1805; Improvisos de Bocage na sua mui perigosa enfermidade, dedicados aos seus bons amigos, Lisboa, 1805; reimpresso no Rio de Janeiro, em 1810; Collecção dos novos improvisos de Bocage na sua molestia, com as obras que lhe fôram dirigidas por varios poetas nacionaes: dedicada ao seu benefico amigo o sr. Marcos Aurelio Rodrigues, Lisboa, 1805; A virtude laureada: drama recitado no theatro do Salitre, composto e dirigido ao rev.mo P. M. Fr. José Marianno da Conceição Velloso, etc., Lisboa, 1805; Ericia, ou a Vestal; tragedia traduzida, etc., Lisboa, 1805, reimpressa no Rio de Janeiro, 1811, novamente em Lisboa, 1815 e em 1825; Armia: idyllio, Lisboa, 1806, seguido da ode O Desengano; reimpresso em 1824; Obras poeticas de M. M. de B. du Bocage, precedidas de um discurso sobre a vida e escriptos d'este poeta, por José Maria da Costa e Silva, tomo IV, Lisboa, 1812; 2.ª edição, com a indicação de muito mais correcta, 1820; Verdadeiras inéditas, obras poeticas de M. M. de B. du Bocage, tomo IV, e 1.º de suas obras posthumas, Lisboa, 1813; reimpresso, em 1835; 4.ª edição em 1843; Obras poeticas de M. M. de B. du Bocage, etc, tomo V, Lisboa, 1813; há 2.ª edição, em 1822; Verdadeiras ineditas, obras poeticas, etc., tomo VI e 2.º das obras posthumas, Lisboa, 1814; este volume foi disposto e coordenado para a impressão por Pato Moniz; além das poesias, contêm a tradução da comédia 0 Ralhador, de Brueys e Palafrat, em prosa; 2.ª edição, 1831; Raymundo e Marianna: novella hespanhola, traduzida do francez, etc., Lisboa, 1819; 0 casamento por vingança, novella traduzida, etc., Lisboa, 1820; reimpressa, em 1828; Á morte de Ignez de Castro, cantata, Lisboa, 1824; é transcrita do que anda no tomo II das Rimas do autor; Medéa ou a vingança, cantata, Lisboa, 1826, também transcrita como a anterior; Descripção do Diluvio, Lisboa, 1826; igualmente extraída do tomo II das Rimas; Poesias escolhidas de M. M. de B. du Bocage, Lisboa, 1835; Pena de talião, satyra a José Agostinho de Macedo, Lisboa, 1838; edição bastante incorrecta, por ser feita sobre a que primeiro aparecera da mesma sátira, inserta no Investigador Portuguez, vol. IV, em 1812; Poesias satyricas inéditas de M. M. de B. du Bocage, colligidas pelo professor de grego Antonio Maria do Couto, etc., 2.ª edição correcta e augmentada, Lisboa, 1840; Quadras, mottes, improvisos, decimas e colchêas glosadas, etc., por M. M. de B. du Bocage, Lisboa, 1842; Obras poeticas de M. M. de B. du Bocage. etc,. tomo VI e 3.º das Obras posthumas, Lisboa, 1842; A estancia do fado, elogio dramatico, para recitar-se no real theatro de S. Carlos no dia natalicio da ex.ma sr.ª D. Maria Thereza, em beneficio de Victorino José Leite, Antonio Manuel Cardoso e João Anacleto de Sousa, Lisboa, 1787; Em 1853, Inocêncio Francisco da Silva fez uma nova edição de todas as obras; reunindo-as que estavam impressas, em edições repetidas, numa variedade de folhetos e livros irregulares e mal correctos, e algumas poesias ainda não coligidas; esta edição saiu com o seguinte título: Poesias de Manuel Maria de Barbosa du Bocage, colligidas em nova e completa edição dispostas e annotadas por I. F. da Silva, e precedidas de um estudo biographico e litterario sobre o poeta, por L. A. Rebello da Silva, Lisboa, 1853, com um retrato do poeta, copiado da gravura original de Bartholozzi, 6 tomos; Poesias eroticas, burlescas e satyricas de M. M. de Barbosa du Bocage, não comprehendidas na edição que das obras d'este poeta se publicou em Lisboa, no anno passado de 1853, Bruxelas, 1854; localidade suposta, como é fácil de crer; nas mesmas circunstâncias se fez outra edição em 1860; deste volume também houve uma contrafacção na Baía em 1861, igualmente clandestina. Poesias selectas de Manuel Maria de Barbosa du Bocage, coligidas e anotadas por J. S. da Silva Ferraz, e precedidas de um esboço biográfico por J. V. Pinto de Carvalho, Porto, 1864, com o retrato: Obras poeticas de Bocage, nova edição, Porto, 1875‑1876, 8 tomos; o último contém a vida do poeta e a apreciação da sua epoca literária, por Teófilo Braga. Com a colaboração de Inácio Ribeiro Soares, compôs: Lizia libertada ou a Gallia subjugada, elogio dramático à restauração da corte e reino de Portugal, solenizada a 15 de Setembro; composto por Manuel Maria de Barbosa du Bocage e Pedro Inácio Ribeiro Soares. Ampliado por Alexandre José Victor da Costa Sequeira. Copiado aos 31 de Março de 1818. No tomo 16 do Diccionario bibliographico, a pág. 412, dá-se nota deste manuscrito, dizendo que a letra parece ser do ampliador Alexandre Sequeira, e pertence às colecções do Sr. Manuel de Carvalhais.


Olha, Marília, as flautas dos pastores

Olha, Marília, as flautas dos pastores
Que bem que soam, como estão cadentes!
Olha o Tejo a sorrir-se! Olha, não sentes
Os Zéfiros brincar por entre as flores?

Vê como ali beijando-se os Amores
Incitam nossos ósculos ardentes!
Ei-las de planta em planta as inocentes,
As vagas borboletas de mil cores.

Naquele arbusto o rouxinol suspira,
Ora nas folhas a abelhinha pára,
Ora nos ares sussurrando gira.

Que alegre campo! Que manhã tão clara!
Mas ah! Tudo o que vês, se eu não te vira,
Mais tristeza que a noite me causara.


Bocage foi, sem margem para dúvidas, um dos mais brilhantes sonetistas da Língua Portuguesa.

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