Ontem foi dia de mais um debate. Como vem sendo hábito e ontem não fugiu à regra, estamos perante uma estopada de se lhe tirar o chapéu. Ontem, para piorar ainda mais as coisas, nem Sócrates estava nos seus dias (talvez a maratona na Praça Vermelha tenha sido mais cansativa).
Claro que estes debates a mim não me dizem nada. São nada mais nada menos do que trocas mais ou menos acesas de palavras carregadas de retórica pura e dura e nas quais ninguém acredita, nem sei mesmo se eles próprios acreditam naquilo que estão a debitar.
Mas estopada ou não e porque assisti, gostaria de chamar a atenção para dois ou três pormenores.
Primeiro. Eu compreendo que não deve ser agradável ir debater um tema que é escolha do primeiro-ministro e que, por isso, deve estar sabido de trás para a frente e da frente para trás. Mas os partidos representados na Assembleia são todos alternativa ao Governo - eles assim o dizem - logo devem estar preparados para debater qualquer matéria com afinco, o mesmo se deve dizer do primeiro-ministro.
Digo isto porque ontem, e mais uma vez, os partidos da oposição só quiseram falar da Ota.
Que raio! É ou não verdade que a Ota é um assunto com alguns anos? É ou não verdade que alguns dos deputados do PSD e CDS já exerceram funções governativas tendo na altura dado o seu aval à questão e só não foram para a frente por falta de coragem política?
Mas nem só de Ota viveu ontem o plenário. Viveu também do "caso Charrua" e da greve.
Sobre o "caso Charrua" é minha convicção de que nunca iremos saber a verdade nua e crua, mas acredito que a frase é mais do que aquela que ele diz ter dito, caso contrário não se armava em vítima de perseguição política. E não sei porquê estou a lembrar-me do porteiro do hospital de Faro que exigiu identificação ao Cavaco. Lembram-se.
A greve é o que é: uma guerra de números onde nenhum dos lados está a ser verdadeiro.
Segundo: Fiquei também admirado com o sr. deputado Madeira Lopes do partido ecologista "Os Verdes".
Toda a gente sabe que o apoio que o PC dá aos "Verdes" só acontece porque é uma forma do PC chegar a uma franja da população à qual nunca chegaria de outra forma. Mas é um facto que o sr. deputado está ali porque está inserido numa lista da CDU, caso o seu partido saia da coligação ele também sai imediatamente do hemiciclo.
Terceiro: Deixei para final o ponto primordial. Não sei se repararam como eu para a bancada do PSD. Se repararam perceberão melhor aquilo que vou escrever.
A prestação de Marques Mendes está a piorar de debate para debate. É um dó de alma constatar que na primeira e segunda filas ainda existem uns acenos e algumas palmas - nomeadamente de Marques Guedes -, agora a partir daí nada. Não há qualquer manifestação quando o líder do partido fala. No Contrato Colectivo de Trabalho existe uma definição excelente: é um contratado a prazo.
Por falar em dó de alma. Foi confrangedor, se não mesmo patético o encontro entre o candidato Fernando Negrão e a sua mandatária para a juventude e as palavras de circunstância que trocaram. Vejam os registos dos Telejornais e deliciem-se.
Por fim a justiça. Ontem foi absolvida no Tribunal de S. João Novo, no Porto, uma senhora que tinha morto à machadada o marido que a maltratava há 40 anos. Acusada pelo Ministério Público por crime de homicídio privilegiado, cometido sob emoção violenta, conseguiu que a sua actuação foi considerada como legítima defesa.
Não é a sentença que me move - acho-a legítima - mas antes as declarações do juiz-presidente do colectivo.
Disse João Amaral que a referida senhora "salvou-se" de ser a 40.ª vítima da violência conjugal em Portugal, tendo mesmo citado um relatório da Amnistia Internacional, que contabilizou 39 mulheres mortas às mãos dos maridos em 2006 no nosso país.
Mas o referido juiz não se ficou por aqui e aproveitou para zurzir o poder político dizendo que "Nos últimos anos, a única coisa que se fez foi tornar público [não dependente de queixa] o crime de maus-tratos. Mas isso nos tribunais vale zero!".
Estou de acordo e também penso que isso é pouco, mas não posso deixar de solicitar a este juiz que promova uma sessão de esclarecimento junto dos seus pares, nomeadamente junto dos do Supremo, sim porque existem alguns acórdãos sobre este tipo de matérias que deixam muito a desejar.
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