Este orçamento arrisca-se a ficar na história por variadíssimas razões.
Primeira delas foi o KO imposto por Sócrates a Santana Lopes no primeiro "round" (Luís Delgado, pelas razões óbvias, acha que não).
A segunda tem a ver com o facto de ter motivado um almoço de desagravo, coisa aliás nunca vista. A prestação de Santana foi tão paupérrima, o e-mail colocado a circular pelos deputados do PSD era tão forte, que Menezes se viu obrigado a fazer um almoço de desagravo para com Santana.
Terceiro, assisti à preocupação de Menezes por Sócrates não demonstrar respeito pelo ex-primeiro ministro Santana e também aqui achei fantástico e isto porque de imediato me lembrei das eleições para líder do PSD. Sim não me querem convencer que Menezes respeitou Mendes? Sim, sim, aquela da ética é exemplo flagrante...
Quarto é que Santana inaugurou um novo posicionamento. Grita, esfola, sua as estopinhas, e tudo, e tudo, e tudo... e na altura de ouvir a resposta à sua intervenção... dá de frosques. Isto sim, isto é que é respeito
A propósito deste episódio diga-se que não gostei das palavras do ministro Santos Silva quando ele disse que Santana tinha ido para a tribuna e que aí berrou e depois fugiu.
Eu sei que foi precisamente isso que aconteceu e que tal atitude demonstra uma falta de respeito enorme, mas podia escolher melhor os vocábulos empregues.
Quinto e último, este orçamento provocou um episódio de disciplina de voto no PS, mas isto merece um texto separado.
E foi assim que o Orçamento foi aprovado na generalidade, com os votos do PS.
Vamos à disciplina de voto. A direcção do PS/Madeira pediu na quarta-feira à noite aos seus três deputados na Assembleia da República que se abstivessem na votação da proposta de Orçamento do Estado para 2008 na generalidade.
O que é certo é que no final, depois do aviso de Sócrates, os três deputados votaram favoravelmente o que motivou comentários do PS/Madeira no sentido de que esperava que os seus deputados seguissem as indicações da estrutura local pelo que oportunamente responsabilizara estes deputados.
Tudo isto é curioso, mas importa ir ao cerne da questão.
Esta história da abstenção dos deputados madeirenses nasce pelo facto de João Carlos Gouveia, líder do PS/Madeira, está a seguir a estratégia que Alberto João Jardim sempre seguiu quando o PSD esteve no governo, usando os deputados madeirenses que se sentam na bancada do PS na Assembleia da República como arma de arremesso político.
Esta nova estratégia socialista na Madeira nasce logo a seguir às eleições regionais de há quase seis meses, quando Alberto João Jardim obteve mais uma vitória esmagadora.
O facto de José Sócrates não ter ido à Madeira durante a campanha eleitoral acabou por se tornar motivo de grande polémica, com alguns socialistas locais a criticarem duramente essa ausência.
Logo a seguir a ser eleito, em Julho passado, João Carlos Gouveia veio criticar o governo da República. O líder regional do PS afirmou, na altura "Sem questionarmos a necessidade de algumas medidas impopulares, como a idade da reforma na função pública ou outras alterações na Segurança Social, o Governo da República tem vindo a manifestar insensibilidade em relação a cidadãos desfavorecidos". E acrescentou em seguida: "A economia tarda a absorver os milhares de desempregados, enquanto continuam a falir empresas, que empurram para o desespero cidadãos com nome próprio e não simples números para o trabalho estatístico. Os funcionários públicos são humilhados como se eles próprios fossem responsáveis pelo excesso de funcionários públicos ou pela criação do seu posto de trabalho". Por sua vez, em relação ao PS- Madeira, já por várias vezes, João Carlos Gouveia tinha defendido que estrutura regional do partido " tem de se fazer ouvir a propósito das questões regionais quando estas são discutidas nos órgãos nacionais do PS".
Pode ser que esta nova fórmula dê frutos no futuro. Aguardemos.
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