terça-feira, 29 de novembro de 2005

Este país

Estava Portugal sossegado assistindo aos embates desportivos, às manifestações corporativas, a uma corrida eleitoral sem intervenientes interessantes e preparando um Natal mais apertado quando, de repente e como se de uma bomba se tratasse, caíu "em cima da mesa" a questão dos crucifixos nas escolas.
Começou de imediato o "tumulto". Padres, bispos, alguns candidatos presidenciais, associações de pais, associação das famílias numerosas (julgo ser este o nome - e já agora isto é o quê!?), professores, enfim toda uma vasta pléiade de pessoas se meteu ao barulho dando conta do seu sim e do seu não a esta medida, que, ao que parece, resulta de uma queixa da Associação República e Laicidade (a carta e o documento que a acompanhou podem ser lidos em http://www.geocities.com/CapitolHill/Senate/4801/Comunicados/ME.htm e http://geocities.yahoo.com.br/patriciasg1610/RL-repertorio-1.pdf).
Somente num país como o nosso é que tal assunto pode receber os epítetos que recebeu (inadmissível, uma vergonha, querem encurralar a Igreja, etc., etc.), porque num outro qualquer que tenha a nossa Constituição isso teria sido um facto banal. Mais. O candidato Cavaco Silva sustentou agora que era inadmissível que isto tivesse acontecido, mas disse-o somente agora que está em campanha, porquanto não me lembro de ter ouvido da sua boca qualquer reacção ao documento que preconizava isto mesmo e que foi emanado pela Provedor de Justiça em 1999, Menéres Pimentel (actualmente presidente da Comissão da Liberdade Religiosa) quando, na sequência da queixa do pai de um aluno, endereçou a uma escola lisboeta uma vigorosa recomendação no sentido da retirada dos crucifixos e considerando mesmo a sua presença em escolas públicas "uma clara ilegalidade com a qual é preciso acabar".
Mas enfim, este é o país que temos, onde o importante é sempre suplantado pelo acessório.

Tolerância

E quanto a tolerância deixo-vos um texto da jornalista Fernanda Câncio e inserto no DN de hoje que merece não só uma leitura atenta, mas igualmente uma reflexão cuidada. Aqui vai:

"Escola católica despede grávida solteira

A Igreja Católica americana enfrenta mais um escândalo, desta vez relacionado com o despedimento de uma professora que engravidou fora do casamento.

Michelle McCusker, de 26 anos, dava aulas às crianças mais novas de uma escola católica, quando engravidou de uma relação ocasional. Decidindo levar a gravidez a termo, avisou os seus superiores. Dois dias depois, foi despedida. Um processo contra a diocese de Brooklyn, à qual a escola pertence, foi instaurado esta semana por uma organização de defesa dos direitos civis.
A diocese é acusada de violar a lei federal que proibe a discriminação de grávidas e o tratamento desigual em função do género, alegando que Michelle só foi despedida por ser mulher, já que se fosse homem seria impossível saber se tinha tido sexo fora do casamento.
Uma acusação que a diocese rejeita, alegando que os professores de uma escola católica estão obrigados a assumir os ensinamentos da Igreja em palavras e acções e que é um direito da dioces e ensinar esses valores nas suas escolas e exigir aos professores que os respeitem. "A ideia de que a Igreja está a discriminar uma mulher grávida porque é mulher é ridícula, porque é óbvio que os homens não engravidam", disse, a propósito, um porta-voz da Liga Católica. "Esse é um problema a discutir com a Natureza, não com a Igreja".
Para a Liga Católica, o que está em causa é o exemplo moral - quando uma mulher engravida fora do casamento isso é visível, e admitir isso perante as crianças é assumir que está certo. Uma asserção à qual Michelle McCusker e os seus defensores respondem com uma acusação de hipocrisia "Se ela, em vez de ensinar, fosse uma aluna de uma escola católica e estivesse nas mesmas circunstâncias, as autoridades eclesiásticas teriam feito tudo para a convencer a manter a gravidez. Mas como empregadoras, apesar de toda a propaganda pró-criança e pró-família, despediram-na", diz um membro da organização Católicos pela Livre Escolha. Mc Cusker vai mais longe "Se eu tivese abortado, nada disto teria acontecido, eles nunca saberiam.""
Estamos conversados meus senhores.

Vejam esta pérola

"À falta de assunto, alguns políticos, partidos e comentadores estão muito preocupados com a passagem de aviões da CIA por território nacional, e, em alguns casos, com a sua aterragem em aeroportos, supondo-se que para reabastecimento. Há fotografias, filmagens, e um sem-número de pormenores que dão à história um conteúdo interessante. É da época.
Vamos por pontos alguém imagina, mesmo que por alto, quantos aviões circulam todos os dias, ou até horas, fretados por vários serviços secretos (e não estamos a falar de polícias políticas e quejandas...), por esse espaço fora, de um lado para o outro? Não devem ser poucos, e talvez a CIA faça como os serviços britânicos, franceses, alemães, israelitas e sei lá que mais. Alguém, por acaso, viu que esses aviões levam e trazem prisioneiros ou membros da Al-Qaeda ou de outros grupos de terroristas? E mesmo que os transportem, qual é o crime?
A CIA, por enquanto, é uma agência de informações do mais democrático de todos os países, onde o escrutínio dos suas instituições, abertas e secretas, é feito diariamente, ao milímetro, por dezenas de grupos independentes, Congresso, comissões, e uma imprensa com um poder inigualável no mundo.
É do conhecimento público que muitos dos prisioneiros de grupos terroristas são transportados para a base de Guantánamo, em Cuba. Diz-se, mas essa é uma questão diferente dos voos da CIA, que esses terroristas são torturados e maltratados, mas muitos congressistas da oposição já visitaram o local, e nada disso foi dado como certo.
É conveniente, no entanto, que maiores investigações se façam nesse domínio. A questão que preocupa alguns partidos nacionais, contudo, é se alguns aviões fretados pela CIA aterram ou passam por território nacional. E então? Será que na nossa pequenez ainda temos a ilusão de pensar que não existe um vaivém permanente, com aviões civis ou militares, que transportam dezenas de coisas, incluindo agentes, e não prisioneiros, todos os dias do ano? Será que os portugueses pensam, ou acham, que não existem outros meios e rotas para levar e trazer? Haja pachorra."
Este texto tem por título "Os aviões da CIA", foi escrito por Luís Delgado no DN de ontem.
Realmente numa coisa ele tem razão: haja pachorra... mas para o aturar.

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