segunda-feira, 7 de novembro de 2005

A França hoje

Vamos no 12.º dia de confrontos. A violência alastrou-se a toda a França. Cerca de 4.000 veículos foram queimados, estabelecimentos comerciais, repartições públicas, fábricas e, pior que tudo isto vítimas mortais.
Porquê questionarão uns.
Um Maio, não de 68 mas de 2005, dirão outros.
Sinais dos tempos modernos avançam alguns.
O fim do mundo pensarão ainda uns quantos.
A resposta não será assim tão simples, pois poderá ser tudo isto e nada disto.
Comecemos então pelo princípio.
Dois jovens morreram electrocutados na estação eléctrica de Clichy-sous-Bois, local que lhes serviu de refúgio face a uma perseguição policial que tinha sido encetada por suspeita das autoridades de eles serem os autores de um assalto.
Dir-me-ão que não estamos perante causa suficiente para esta guerrilha urbana. Sim, porque é de autêntica guerrilha urbana que se trata.
Este foi o detonador para atear uma bomba que permanecia em stand-by à muito tempo.
Esta situação é o resultado de uma imigração perfeitamente desordenada e desorganizada que atingiu a Europa.
À procura do el dourado europeu, milhares de habitantes dos designados países do Terceiro Mundo percorreram (e continuam a percorrer, vejam-se os últimos casos em Espanha) distâncias loucas, em condições verdadeiramente deploráveis.
Chegados aceitam qualquer trabalho, muitas vezes em condições de pura escravidão, com o objectivo final de iniciarem uma vida digna e que o país natal não foi, nem é, capaz de lhe oferecer.
Tudo corre bem mas, de repente, o el dourado transforma-se no pior dos infernos. E o pior é que o inferno se alastra e prolonga. Mas entretanto os que vieram casaram-se, tiveram filhos, que por sua vez também se organizaram e constituíram família e são estas segundas e terceiras gerações que vêem desabar-lhe em cima todo um caos do qual não são responsáveis, antes pelo contrário vítimas.
Sem emprego na maioria dos casos, vivendo em bairros que lembram guettos que a Europa viu em tempos idos, estes “emigrantes” (entre comas porque eles já são naturais) enfrentam o vazio dia após dia. Mas o vazio não permanece, antes pelo contrário, vai sendo ocupado com revolta, ódio mal disfarçado e desejo de vingança.
Qualquer motivo será válido para expor na prática estes sentimentos. Não quero com isto dizer que esta a morte é um motivo menor, antes pelo contrário. E neste caso, como em tantos outros ela deve servir para repensarmos com seriedade o problema da emigração nesta aldeia global em que estamos inseridos.
Mas isto poderá não ficar por aqui. È que se o actual cenário é mau, ele poderá ainda ficar pior.
Todos nós sabemos que os partidos de direita e extrema direita assentam os seus fundamentos nas questões de segurança, ou mais precisamente da falta dela, na emigração e nos efeitos perniciosos que, no ponto de vista deles, esta causa, no desemprego e outros pregões que melodias para os ouvidos de muitos.
Sendo assim, e tomando em consideração tudo o que está acontecendo, fácil será esperar que em próximas campanhas eleitorais isto sirva de pano de fundo e que dê votos a esses mesmos partidos e associações, e em França a direita e a extrema direita tem uma força que não se deve desprezar.
E se isto der frutos em França, facilmente se alastrará a outros países da Europa.
Teremos então que esta revolta é uma espada de dois gumes para quem a fomenta, sendo que os “feridos”, de uma maneira ou de outra, serão sempre os actuais revoltados. Até quando estarão quietos aqueles que vêem nos emigrantes ou/e seus descendentes a raiz de todos os problemas?
E Portugal?
Neste momento é dado a conhecer que esta violência já alastrou à Bélgica e à Alemanha.
Aguardemos



A foto, retirada da SIC, mostra os locais de confronto junto a Paris

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