Ratzinger himself
Era previsível que quando assentasse a poeira levantada pela sua eleição aparecesse em cena o verdadeiro Papa Bento XVI, ou seja o todo-poderoso Cardeal Joseph Ratzinger.
Bento XVI emitiu um decreto que limita a autonomia dos monges Franciscanos, encarregues de guardar os restos mortais de S. Francisco de Assis, sendo que a partir de agora, os monges, considerados de esquerda por muitos católicos italianos, vão ser controlados por um bispo local, um cardeal do Vaticano e o chefe da Conferência Episcopal italiana.
Esta é a primeira tentativa do actual Papa para disciplinar uma ordem religiosa, tendo para isso revogado um decreto anterior, assinado em 1969 por Paulo VI, que dava aos monges de Assis uma ampla autonomia.
Mas tudo isto é mais abrangente, e porquê? Porque nas últimas décadas, os monges de Assis -- um dos lugares mais sagrados e visitados do Cristianismo -- têm-se associando a partidos e causas de esquerda. A marcha pacifista tradicionalmente organizada pelos monges na Páscoa é frequentada por líderes de esquerda e frequentemente boicotada por políticos de centro-direita.
Os monges costumam, igualmente, receber figuras polémicas, como o ex-chanceler iraquiano Tariq Aziz, líderes comunistas italianos ou o actor Roberto Benigni, conhecido por ser um ativista de esquerda.
Ora o decreto pontifício determina que os monges precisam de autorização do bispo local para as suas futuras iniciativas. O papa, que antes de chegar ao cargo passou 25 anos como guardião da doutrina do Vaticano, disse igalmente aos monges que suas celebrações religiosas precisam de se adequar às normas, o que deve ser entendido como uma referência às reuniões e orações inter-religiosas feitas por eles e consideradas ousadas demais por alguns conservadores da Igreja, por aproximar o sincretismo.
O monges eram protegidos pelo falecido João Paulo II, que visitou Assis várias vezes e ali realizou duas das suas reuniões de paz com outros líderes religiosos.
A Igreja obscurantista e conservadora não podia ter encontrado melhor líder que o actual Papa.
O comentário de ontem
Relativamente ao comentário de ontem, gostaria de dizer que não são as "personagens" que fazem falta à democracia, o que faz falta à democracia são projectos políticos sérios, criteriosos (liderados dos pés à cabeça por elementos da mesma estirpe) que nunca relegando a sua essência (seja do centro, da esquerda ou da direita) saibam adaptar-se e tomar em consideração a nossa especificidade.
Como forma de complemento sugiro a leitura de:
http://dn.sapo.pt/2005/11/23/editorial/sequestro.html.
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