segunda-feira, 23 de janeiro de 2006

Lá terá que ser

É inevitável não trazer aqui as presidenciais, por isso aqui deixo a minha dissertação sobre as mesmas.
Aníbal Cavaco Silva é o novo Presidente da República. Os 50,59% obtidos fazem dele o presidente de todos os portugueses.
O seu discurso final, é um discurso "limpinho", sem entrelinhas, que o mesmo é dizer é o discurso que se impunha no momento da vitória. Curiosamente, ou talvez não, pudemos verificar que o CCB estava repleto de figuras do cavaquismo. Até que ponto estas presenças são indicativas de algo, só o futuro o dirá.
Algo que merece ser também salientado são os seus agradecimentos.
Agradeceu ao PSD e não ao PPD e agradeceu ao CDS e não ao PP.
Não agradeceu ao PPD, porque isso implicaria agrdecer a um conjunto de pessoas de quem nunca gostou e em especial a Santana Lopes. O futuro dirá o que é que isto representa, sendo que nós sabemos que o desejo de poder é tão grande que alguns dos barões pouco se importarão de não serem referenciados desde que isso se traduza nalguma visualização, mesmo que pequena.
Não agradeceu ao PP, porque Paulo Portas e seus seguidores (Telmo Correia, Pires de Lima e Nuno Melo entre outros) não são figuras gradas a Cavaco.
Independentemente de tudo isto o que fica para a história é que depois do 25 de Abril, Cavaco Silva é o primeiro Presidente da República oriundo da direita a ser eleito.
Ora se a direita ganhou, a esquerda perdeu e sobre este facto é imperioso e urgente aprofundar as razões desta derrota.
O Partido Socialista é o mais derrotado, sendo que o é duplamente.
Em primeiro porque viu a base de apoio que lhe deu a maioria ser dividida por três candidatos: Cavaco Silva, Manuel Alegre e Mário Soares. Em segundo, porque o seu candidato ficou em terceiro lugar e com uma diferença de votos acentuada do segundo que, foi tão só um candidato independente, embora militante do PS.
Não sei se alguma vez se chegará a saber a razão da candidatura de Manuel Alegre contra o partido do qual é militante, mas seria interessante que fosse pública, talvez muita gente tivesse uma surpresa.
Mas também importa dizer que a votação teve um sentido castigador face às medidas que o Governo tem adoptado. O que se por um lado é mau para o PS é ao mesmo tempo bom para o país, porquanto é sinal que estamos perante um Governo que não se rege por ciclos eleitorais como o têm feito tantos outros, incluindo os governos de Cavaco Silva.
Embora a esquerda tenha sido, no seu conjunto, derrotada, seria injustiça não salientar Jerónimo de Sousa e o PCP.
Mário Soares foi profundamente derrotado. A questão se ele merecia ou não essa derrota não cabe neste espaço. O que importa saber é o que levou Soares a pisar novamente a estrada? Foi o seu inimigo de estimação (Cavaco)? Foi mostrar que o seu nome aida pesava na memória dos portugueses?
Fosse o que fosse saiu-lhe mal. Foi um dos grandes derrotados da noite. É certo que a sua tarefa não era nada fácil. Candidato de um partido que está a governar é uma missão ingrata.
Mas seja de que maneira for, o facto de ter ido à luta deve merecer, no mínimo, o nosso respeito.
Mas esta derrota coloca em causa um outro facto: se dentro do PS existia o soarismo, ele existia, como é que ele fica agora? É uma questão para acompanhar no futuro
Jerónimo de Sousa consolida os votos do PCP e faz inverter a queda que estava a assolar os comunistas no tempo de Carlos Carvalhas, o que só por si se apresenta como um fenómeno merecedor de atenção no futuro, tanto mais que Jerónimo pertence à linha ortodoxa do partido.
Antes de falar de Alegre, impõe-se uma "visita" a Louçã e ao Bloco de Esquerda.
A tendência para a estagnação revelada nas autárquicas confirmou-se nas presidenciais, salvaguardando-se, como é óbvio, as devidas diferenças face às duas eleições.
É um partido com uma franja do eleitorado bem vincada e que não tem condições para aumentar muito mais.
Falemos agora de Manuel Alegre.
Com 20,72 % ocupou assim o segundo lugar.
Trata-se de uma percentagem expressiva que poderá provocar alguma mossa no futuro.
Não será de descartar que deste "movimento de cidadania" possa nascer algo mais no futuro, aliás não seria caso inédito na nossa democracia, basta que nos lembremos do PRD de Ramalho Eanes.
Seja o que for no futuro, só não gostaria que o 1.124.662 se tornasse numa "révanche".

Mais algumas reflexões

Deixo-vos agora algumas reflexões que, no meu ponto de vista, são interessantes.

Foi importante verificar que quer o PSD/PPD e o CDS/PP passaram a pré-campanha e a campanha sem fazer um único ataque ao Governo, tudo isto em nome da eleição do candidato Cavaco Silva, sendo que Marques Mendes já advertiu que é tempo de voltar a ser oposição.
Marques Mendes esquece-se de algo muito importante: se houver turbulência institucional e o Governo cair, não será ele o escolhido de Cavaco, mas sim o neoliberal António Borges.

José Sócrates pode descansar neste ano de 2006. Mas a partir de 2007 pode encomendar o colete à prova de bala, pois o fogo a partir de Belém será cerrado.

Todos sabemos que a democracia não começa nem acaba nos partidos políticos. Se alguém é de opinião que a solução para a crise que atravessamos passa por movimentos de cidadania e que os partidos são dirigidos por aparelhos e nalguns casos por incompetentes, como é que esse alguém permanece como deputado de um partido sujeito a todas essas vissicitudes? É estranho

1 comentário:

Anónimo disse...

No mínimo...estranho!!! Quanto ao resto, não sei se o engenheiro estará tão descansado como dizes, lá para o fim do ano. Abraço

e os rapazinhos querem o 25 de novembro...  pois se me é permitido (e o 25 de Abril deu-me essa liberdade) eu acrescento o 28 de setembro e ...