quinta-feira, 19 de janeiro de 2006

Liberalização ou cartelização

A questão dos preços dos combustíveis está a assumir foros de escândalo.
Começando do início, julgo que a questão da liberalização dos preços foi mal equacionada pelo Governo que a decidiu.
A liberalização deveria ter sido imputada aos revendedores e não às petrolíferas e isto porque era previsível desde logo que o poderio das mesmas fizesse subir os preços a seu belo prazer, não podendo o consumidor beneficiar em nada da liberalização em si mesma.
O que se verificou esta semana é a todos os níveis escandaloso. As petrolíferas provocaram um aumento e hoje aumentaram outra vez. A primeira foi, no dizer deles, pelo preço do petróleo e o de hoje devido au aumento do ISP.
Nem se quer me tentem convencer de quando aumentaram a primeira vez, já não sabiam que a Portaria com os novos valores de ISP ia ser publicada. Sendo assim as petrolíferas ganharam duas vezes.
Eu entendo que as empresas nasceram para dar lucro, mas daí até ao absurdo vai uma longa distância.
Quais foram os lucros da GALP? E serviram para quê?
Esta não é a petrolífera nacional?
Talvez esta seja também um sector sobre o qual Abel Mateus e a Autoridade da Concorrência devem poisar os seus olhos.

Eugénio de Andrade

De seu nome verdadeiro José Fontinhas nasceu a 19 de Janeiro de 1923 em Póvoa de Atalaia, uma pequena aldeia da Beira Baixa situada entre o Fundão e Castelo Branco, filho de uma família de camponeses, "gente que trabalhava a pedra e a terra". A sua infância é passada com a mãe, que é a figura dominante de toda a sua vida e da sua poesia. O pai, filho de camponeses abastados, pouco esteve presente, dado que o casamento, efectuado mais tarde, durou muito pouco.
Mais tarde, prosseguindo os estudos, foi para Castelo Branco, Lisboa e Coimbra, onde residiu entre 1939 e 1945. Em 1947 entrou para a Inspecção Administrativa dos Serviços Médico-Sociais, em Lisboa. Em 1950 foi transferido para o Porto, onde fixou residência. Abandonou a ideia de um curso de Filosofia para se dedicar à poesia e à escrita, actividades pelas quais demonstrou desde cedo profundo interesse, a partir da descoberta de trabalhos de Guerra Junqueiro e António Botto(foi por volta de 1935 que Eugénio de Andrade se deparou, pela primeira vez, com a poesia de António Botto: "Devia andar pelos meus doze anos quando me caiu nas mãos a biblioteca de um vizinho. Não era grande, mas bem escolhida: a par de muito Júlio Verne, Jack London e Alexandre Dumas havia clássicos e românticos portugueses, os grandes romancistas russos, todo o Eça, todo o Junqueiro, algum Aquilino. E um poeta moderno então muito célebre: António Botto." Confiante no talento do jovem poeta, António Botto foi quem, em 1939, incitou Eugénio de Andrade a publicar o seu primeiro poema, "Narciso"). Camilo Pessanha constituiu outra forte influência do jovem poeta Eugénio de Andrade. Embora não se integre em nenhum dos movimentos literários que lhe são contemporâneos, não os ignorou, mostrando-se solidário com as suas propostas teóricas e colaborando nas revistas a eles ligadas, como Cadernos de Poesia; Vértice; Seara Nova; Sísifo; Gazeta Musical e de Todas as Artes; Colóquio, Revista de Artes e Letras; O Tempo e o Modo e Cadernos de Literatura, entre outras.
A sua poesia caracteriza-se pela importância dada à palavra, quer no seu valor imagético, quer rítmico, sendo a musicalidade um dos aspectos mais marcantes da poética de Eugénio de Andrade, aproximando-a do lirismo primitivo da poesia galego-portuguesa ou, mais recentemente, do simbolismo de Camilo Pessanha. O tema central da sua poesia é a figuração do Homem, não apenas do eu individual, integrado num colectivo, com o qual se harmoniza (terra, campo, natureza - lugar de encontro) ou luta (cidade - lugar de opressão, de conflito, de morte, contra os quais se levanta a escrita combativa). A figuração do tempo é, assim, igualmente essencial na poesia de Eugénio de Andrade, em que os dois ciclos, o do tempo e o do Homem, são inseparáveis, como o comprova, por exemplo, o paralelismo entre as idades do homem e as estações do ano. A evocação da infância, em que é notória a presença da figura materna e a ligação com os elementos naturais, surge ligada a uma visão eufórica do tempo, sentido sempre, no entanto, retrospectivamente. A essa euforia contrapõe-se o sentimento doloroso provocado pelo envelhecimento, pela consciência da aproximação da morte (assumido sobretudo a partir de Limiar dos Pássaros), contra o qual só o refúgio na reconstituição do passado feliz ou a assunção do envelhecimento, ou seja, a escrita, surge como superação possível. Ligada à adolescência e à idade madura, a sua poesia caracteriza-se pela presença dos temas do erotismo e da natureza, assumindo-se o autor como o «poeta do corpo». Os seus poemas, geralmente curtos, mas de grande densidade, e aparentemente simples, privilegiam a evocação da energia física, material, a plenitude da vida e dos sentidos.
Foi galardoado com o Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores, atribuído a O Outro Nome da Terra (1988), e com o Prémio de Poesia Jean Malrieu, por Branco no Branco (1984). Recebeu ainda, em 1996, o Prémio Europeu de Poesia.
No Porto foi criada uma fundação com o seu nome.
Autor de uma importante obra poética, podem referir-se os seguintes títulos: Adolescente-1942 ("Adolescente" foi uma edição paga por um amigo, o mesmo que se empenhara a divulgar o nome de Fernando Pessoa - a quem, aliás, o livro é dedicado - , e impressa nas oficinas da Editorial Império. Tal como "Narciso", foi um livro mais tarde renunciado pelo poeta); As Mãos e os Frutos-1948(foi este livro que consagrou Eugénio de Andrade, tendo merecido, na época, elogiosas críticas de autores de relevo como Vitorino Nemésio, Jorge de Sena ou Eduardo Lourenço. Em 1980 foi editado 9 vezes); Os Amantes sem Dinheiro-1950; As Palavras Interditas-1951; Até Amanhã-1956; Conhecimento da Poesia-1958; O Coração do Dia-1958; Os Afluentes do Silêncio-1968; Obscuro Domínio-1971; Limiar dos Pássaros-1972; Véspera da Água-1973; Memória de Outro Rio-1978; Matéria Solar-1980; O Peso da Sombra-1982; Poesia e Prosa, 1940 a 1989-1990, O Sal da Língua-1995, Alentejo-1998, Os Lugares do Lume-1998 e Antologia Pessoal de Poesia Portuguesa-1999.
Organizou ainda, várias antologias, como a que dedicou ao Porto (Daqui Houve Nome Portugal, 1968) e a Antologia Breve (1972).
Em 2000, publica Poesia. Escreveu também livros para crianças. É um dos poetas portugueses mais traduzidos para outras línguas.
Em 1982, o Governo português atribuiu-lhe o grau de Grande Oficial da Ordem de Sant'Iago da Espada e a Grã-Cruz da Ordem de Mérito em 1988. Em 1986, recebeu o Prémio da Associação Internacional dos Críticos Literários. Em 1996, recebeu o Prémio Europeu de Poesia da Comunidade de Varchatz (Jugoslávia). Em 1999 organizou a obra Antologia Pessoal da Poesia Portuguesa. Em Maio de 2000, recebeu o Prémio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores, entregue pelo Presidente da República. O prémio distingue todo o percurso e toda a obra do escritor. Também recebeu, no mesmo ano, o Prémio Extremadura de criação literária e o Prémio Celso Emilio Ferreiro, para autores ibéricos.
Em Fevereiro de 2001, Eugénio de Andrade recebeu o Prémio Celso Emilio Ferreiro, na Galiza. Em Maio, Eugénio de Andrade foi homenageado no Carrefour des Littératures, em França.
Em Julho, foi atribuído ao poeta o Prémio Camões, que se mostrou satisfeito, quer pelo prestígio do galardão, quer por ver o seu nome associado ao de Luís de Camões. No mesmo ano publicou Os Sulcos da Sede.
Para assinalar a data, a Fundação apresenta hoje não a primeira antologia que reúne a poesia de Eugénio de Andrade, mas antes a "edição definitiva" da obra de um dos mais profícuos poetas portugueses do século XX. O professor universitário e ensaísta Arnaldo Saraiva teve a cargo a tarefa de organizar a edição, respeitando as instruções deixadas pelo poeta. Os critérios que presidiram ao trabalho de organização são explicados num texto inserido no final do volume, no qual Arnaldo Saraiva justifica o motivo por que não recorreu aos textos escritos nos últimos anos de vida, quando o autor já se encontrava enfermo.
Em relação à última antologia, datada de 2000, o livro agora editado pela Fundação Eugénio de Andrade mantém não só o título como o grafismo de Armando Alves, com a reprodução de uma gravura de Ângelo de Sousa. A maior novidade prende-se com a inclusão de "Os sulcos da sede", editado em 2001, que contribui para que o volume tenha um pouco mais de 600 páginas.

Sem comentários:

não sei porquê (ou até sei) mas parece que é preciso ajudar Marcelo a terminar o mandato com dignidade