quinta-feira, 12 de outubro de 2006

As novas taxas da saúde. O ano de 2007 vai ser marcado, no dizer do ministro Correia de Campos, pela introdução das taxas moderadoras relativas ao internamento e às cirurgias.
Esta é, sem dúvida uma questão polémica e que deverá sofrer a contestação dos utentes da saúde.
Não duvido que o ministro da Saúde tem uma missão difícil e que tem tido a coragem de atacar de frente alguns problemas que afectam o sector.
Mas uma coisa é eu reconhecer isso mesmo, outra coisa é eu entender a alteração do valor das taxas ditas moderadoras da saúde e, pior que isso é aceitar estas duas novas taxas.
Em Portugal existem dois sectores que importa financiar a todo o custo, para além de alguns outros serviços.
São esses sectores a educação e a saúde.
Na educação, e salvaguardando o ensino superior, sou de opinião que o Estado deve possuir e financiar uma rede de ensino (incluindo o de adultos e o profissional) que atingisse não os 100%, mas, pelo menos, os 90%. A formação é um pilar base para o desenvolvimento de um país. Sobre educação não me vou alongar, porquanto já expressei a minha opinião anteriormente.
No que concerne à saúde já tenho uma opinião diferente.
Todos nós sabemos que a saúde é um sector que desperta muita cobiça por parte do sector privado. Não estou contra essa cobiça e acho muito bem que quem puder ser tratado no sistema privado o seja, agora o que não pode é o Estado fugir à questão do direito à saúde independentemente das capacidades económicas ou outras dos cidadãos e isso passa, sem a menor dúvida, por um Serviço Nacional de Saúde a funcionar em pleno.
Nestes ultimos meses tive oportunidade, infelizmente para mim, de conhecer de perto (ao vivo e a cores como é usual dizer) o serviço hospitalar.
Sem querer estar aqui a "dourar a pílula" é verdade que encontrei profissionais de uma capacidade, dedicação, afabilidade, paciência, eu sei lá mais o quê, dignas de todos os elogios.
Não digam que essa era a sua obrigação.
A Paula, a Isabel, o Luís, o Pedro, o Vicente, a Ana Cristina (só Cristina), a Alice, a Júlia, a Elsa, o Sérgio, e mais alguns nomes que não recordo (não coloco as categorias de propósito) excederam a sua obrigação e estabeleceram não só laços profissionais, mas também de amizade e isso, para quem está internado é muito importante, diria mesmo fundamental.
Mas se o anterior é verdade o oposto também.
Igualmente encontrei, especialmente ao fim-de-semana pessoal que entrava a correr, a horas que não estavam compaginadas com a mudança de turnos, o que deixa antever que estariam de serviço, mas talvez em casa.
Mas isto foi uma divagação.
Admito as taxas moderadoras tal como estão neste momento. Admito as dos centros de saúde, porque encontramos muita gente que vai ao centro de saúde como poderia ter ido a um centro comercial (é normal ouvirmos estes doentes a queixarem-se por não lhe diagnosticarem nada e nem receita lhe passaram). Admito as das urgências dos hospitais porque, e da mesma forma, encontramos ali todo o tipo de doentes: os doentes de solidão, os doentes que não pretendiam ir trabalhar, os doentes que são ali despejados e os que estão mesmo doentes.
Sendo assim pagam todos pela mesma moeda.
Já os internamentos e as cirurgias são questões diferentes.
Excluindo as cirurgias plásticas e reconstrutivas (estas devem ser analisadas caso a caso) e excluindo os internamentos de idosos feitos pelos familiares porque querem ir de férias, ou não querem ter trabalho, não devem existir taxas moderadoras.
É desumano castigar quem já está numa situação enfraquecida.
O Estado pode e deve poupar, mas nunca na saúde propriamente dita dos cidadãos.
O Estado pode poupar começando por não pagar a quem não cumpre o horário do estabelecimento de saúde porque ou vai prestar serviço noutro ou vai para o seu consultório.
O Estado pode poupar se se recusar a pagar a algumas empresas de limpeza que se arrastam penosamente pelos corredores dos hospitais sem que da sua passagem resulte qualquer acto de limpeza.
O Estado poderia poupar em muitas outras coisas. Existem benefícios em lugares de topo que são inconcebíveis, direi mesmo vergonhosos.
Prometo que voltarei a este assunto.
Mas antes de terminar e aproveitando a imagem que inicia este texto e que é da autoria de Vasco Célio - DN, gostaria de questionar o sr. ministro do seguinte: o tempo que estamos internados nos corredores não em camas, mas em macas, também deve ser pago?

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