segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Foi um fim de semana importante. Catalina Pestana continuou a verborreia que tinha iniciado na edição anterior do "Sol" e em Torres Vedras nasceu a bicefalia que passará a dirigir o PSD, para além de uma dose enorme de populismo perfeitamente absurdo.

Vamos à senhora ex-Provedora. Cada vez que abre a boca dá um tiro no pé. Para além de continuar a demonstrar um ódio de estimação a Paulo Pedroso, desta vez decide embrulhar também Ferro Rodrigues (A seguir, foram reveladas as suspeitas sobre Ferro Rodrigues. Como as encarou? Já lhe disse que, depois da prisão do dr. Paulo Pedroso, só a acusação de que o meu filho fosse abusador me espantaria.)
Mas desta vez vai mais longe. Quando questionada sobre o não ter dado conta dos abusos quando esteve na Casa Pia antes de ser Provedora, respondeu assim:
...[Entretanto, estava a trabalhar onde?
Trabalhei no Colégio Feminino Francês e no Liceu de Almada. Em 1975, fui para a Casa Pia, dirigir o Colégio de Santa Catarina. O provedor à época, José Augusto Pereira Neto, meu amigo, queria reformular aquilo tudo. Devo dizer, aliás, que é um dos únicos, desde os anos 60, que sai completamente incólume deste processo. Eu não queria, mas ele convenceu-me: «Aqui estão os filhos dos mais explorados dos portugueses. Se temos poder para isso, temos obrigação de fazer diferente». Eu era completamente incompetente: de internatos só sabia o que tinha lido em livros de autores ingleses do século XIX. Mas tinha algo que não se aprende em nenhum curso: capacidade de ouvir e algum bom senso. Não tinha nenhumprojecto, fomo-lo construindo juntos. Estive lá seis anos. Depois fui trabalhar na Provedoria e no Colégio de Pina Manique, como professora, mais seis anos.
E não se apercebeu de que havia alunos que eram vítimas de abusos sexuais?
Não. Quando Ramalho Eanes foi lá, em 1976, e os alunos fizeram aquele manifesto alertando para o problema, onde estava? Enquanto o Presidente da República estava com a direcção da Provedoria, eu e outra pessoa fomos fazer companhia à primeira-dama, Manuela Eanes, e mostrar-lhe o Colégio de Pina Manique. Lembro-me de ter proferido uma frase muito pouco elegante, quando ela disse, a certa altura: «Mas eu já não sei onde estou, isto é muito grande». E eu disparei: «Então imagine que tem sete anos e a deixam aqui sozinha; como é que se sentiria?». A dra. Manuela Eanes, amiga que muito prezo, tinha dito antes que com muito amor e carinho resolvia-se tudo. Nós precisávamos era de obras. Mas acho que compreendeu o meu desabafo. Portanto, não ouvi nada do que se passou com o general Eanes. Mas soube do ‘levantamento de rancho’ e assisti ao jantar e ao discurso do Presidente.
Como é que, durante 12 anos, nunca se apercebeu de algo com esta dimensão? Nem com o caso dos miúdos desaparecidos e depois encontrados em casa de Jorge Ritto, nos anos 80?
Nada. Mas percebo porquê. Como adjunta do vice-provedor, já não ia às reuniões de conselho (embora, ao que me disseram, esse caso não tenha sido discutido em conselho).
E não era um assunto que se comentasse?
Se se comentava, era no Colégio Nun’Álvares. Nos outros colégios não se chegou a saber. Santa Catarina tem um edifício diferente, menos exposto (só tem uma porta) e era o único internato misto da Casa Pia, pois acolhia grupos de irmãos. Portanto, comparado com grandes colégios masculinos como o Maria Pia, o Pina Manique e o próprio Nun’Álvares, o Santa Catarina era o mais pequeno e o mais resguardado, pelo que, para qualquer pedófilo, não valia o esforço. Além disso, os grupos de irmãos autoprotegiam-se. Eu tive problemas, sim senhora, mas com as meninas que fugiam. Cheguei a ir às boîtes buscá-las. Tive uma, de 12 anos, que engravidou e quis dar à luz o bebé. Portanto, os problemas que tive foram os ‘normais’, de quem tem grandes grupos de miúdos a crescer.]

Vejam só a senhora possuidora de uma vivência assinalável à época (Pide, bombas, Otelo, Fup, etc. e etc.) não se apercebeu de nada...
Não sei porquê, mas vem-me à ideia a célebre história do Arcebispo de Braga, D. Eurico Dias Nogueira, quando em 1991, a RTP transmitiu "o Império dos Sentidos", de Nagisa Oshima, transmissão essa que caiu que nem bomba na Igreja e que levou o referido arcebispo de Braga a afirmar ter aprendido em dez minutos de filme mais do que na vida inteira (!).
Mas há mais.
Esta senhora foi nomeada (ou pediu para ser nomeada, existem declarações contraditórias) para defender os "meninos".
Podemos pois concluir que não conseguiu defender nada nem ninguém, já que diz que os abusos e as redes continuam. A ser assim qual foi o trabalho que desepenhou? O que é que esteve lá a fazer. Eu no caso dela teria pedido a demissão por incapacidade, mas claro isso sou eu?
Também não percebo o regozijo de Bagão Felix. O falhanço dela também é o dele.
Não sei se haverá terceira parte. Mas se não há, está mal.
Na primeira apareceu Paulo Pedroso. Na segunda continuou Pedroso, apareceu Ferro e a Maçonaria. Na terceira será quem: o Herman e a Opus Dei?
Mais uma vez ganha a hipocrisia. Parece que esta senhora tem mais nomes (segundo ela diz) mas estão em mão segura.
Haja coragem, publiquem-se os nomes doa a quem doer.
Aqui fica a entrevista (1.ª e 2.ª partes) na íntegra. Tem tanta incongruência que ameaça transformar-se num tratado de idiotice.
Numa coisa a senhora tem razão: a aclamação de Pedroso na Assembleia da República não foi bonita de se ver.

Agora o congresso. Decorreu durante o fim-de-semana o congresso do PSD que, valha a verdade, não trouxe alterações de grande monta.
Quanto aos órgãos do partido é a convergência que se impunha. Todos ao lado do líder e acredito que assim continue durante quatro a cinco meses. A partir dessa data as coisas vão alterar.
Por outro lado a questão do populismo está tão arreigada que nem no congresso conseguiu passar sem ela.
Sim porque a questão de convidar Ferreira Leite para continuar na presidência da mesa do congresso, mais não foi do que um assomo populista conjugado com o presente envenenado. Populista porquanto os convites para os órgãos de um partido e nomeadamente para lugares de destaque, devem ser feitos tendo os restantes membros da equipa já sinalizados, não vá acontecer que se fique a presidir a uma equipa da qual não gostamos e nem somos capazes de trabalhar.
Mas este convite foi também um presente envenenado, já que Menezes deu a entender que estava a fazer o convite, não só pelo discurso de Manuela Ferreira Leite, mas também porque tinha sido importante o seu trabalho anterior no apoio aos seus pontos de vista.
Isto, numa leitura transversal e para os congressistas presentes, significou que Ferreira Leite apoiou Menezes e isso não é verdade.
Mas populista foi também a declaração sobre a autonomia dos Açores e da Madeira.
Não cabe aos arquipélagos definir a sua autonomia. A sua autonomia provém de leis emanadas da República que, discutidas com os Governos Regionais, formam a legislação aplicável na totalidade do território português. Andou mal Menezes ao agitar parangonas que ele sabe que não são viáveis. Isto é populismo puro e duro e a pensar nas eleições na Madeira e nos Açores no próximo ano, sendo que também aqui já vai tarde, uma vez que Jardim e César já pensaram nisso antes e cada um à sua maneira e jogando os trunfos que têm.
Ainda no que respeita às ilhas, Menezes provocou um terramoto, possivelmente sem querer, mas provocou.
Deu destaque a Mota Amaral e não a Costa Neves e como este último será, por certo, o adversário de César, fica, à partida, logo num patamar inferior.
Mas se foi assim com os Açores, com a Madeira foi bem pior.
Miguel Albuquerque, presidente da Câmara do Funchal, foi apoiante de Menezes, contrariando a tendência geral que foi de apoio a Mendes. Ora a contrapartida foi a sua nomeação para número dois de Conselho Nacional, logo após Mota Amaral.
Ora convém não esquecer que o Governo Regional procedeu a uma auditoria à Câmara do Funchal, e as conclusões foram devastadoras para Miguel Albuquerque.
Mas há mais. Convém que não nos esqueçamos da disputa que vai acontecendo nos bastidores para substituir Jardim. E é dentro desta disputa que o truculento Jaime Ramos, secretário-geral do PSD-Madeira, tem canalizado um apoio quase secreto a Abuquerque, já que é voz corrente que Ramos anda agastado com Jardim por este não abandonar e dar o seu lugar a Jaime Filipe Ramos, nada mais nada menos que o filho de Jaime Ramos.
Mas se nas ilhas a coisa pode ficar preta, no continente vai ficar de certeza.
Vejamos: Santana Lopes vai a líder parlamentar, disso não há a menor dúvida, e Menezes não tem assento no Parlamento. Sendo assim com quem é que vai debater Sócrates? Com Santana pois claro.
E onde fica Menezes? Numa visão peripatética diremos que Menezes vai ficar na rua a tocar a campainha e a pedir a todos os santinhos que alguém lhe venha abrir a porta.
Sendo assim Santana está de novo como quer, ou seja e em linguagem de gestão, diremos que Santana vai ser o administrador executivo e Menezes o "charmain", ou seja um cargo importante mas sem poder decisório.
Se a este poder bicéfalo juntarmos o facto de Menezes não ter um terço do congresso, poderemos afirmar que continuam problemas como dantes, não em Abrantes, mas sim na S. Caetano à Lapa.

Sem comentários:

não sei porquê (ou até sei) mas parece que é preciso ajudar Marcelo a terminar o mandato com dignidade