segunda-feira, 12 de março de 2007

Eu andava a evitar falar da TVI, mas não há hipótese alguma de não o fazer. A história de colocar no ar a "Gala das Maravilhas do Mundo" no mesmo dia em que a televisão fazia 50 anos em Portugal já não me tinha caído lá grande coisa.
Eu percebo que a RTP e a TVI são dois canais diferentes e que a programação de um nada tem que ver com a do outro ou que não tem que haver jogos de fair play, etc. e etc., mas que diabo a TVI programou para o dia em que se comemoravam os 50 anos de entrada em funcionamento da televisão a "Gala das Maravilhas do Mundo", sabendo desde sempre que a RTP nunca poderia deixar de comemorar a data em questão.
Eu que já sinto algum frenesim com a programação medíocre que a TVI vai passando (novelas de faca e alguidar, séries juvenis perfeitamente abstrusas -Morangos) chego a momentos destes e fico em autêntico pé-de-guerra.
Estava eu ainda a digerir este lamentável episódio quando ontem aparece um novo programa digno de figurar nos anais da imbecilidade. Refiro-me como é evidente ao "A Bela e o Mestre".
Estamos perante um programa que se pode inserir nos reality shows rasteiros com que os canais nos têm brindado (a TVI: 2000-Big Brother; 2001-Big Brother2, Big Brother3; 2002-Big Brother Famosos e Big Brother Famosos2; 2003-Academia de Famosos e Big Brother4; 2004-Quinta das Celebridades e Fear Factor; 2005- 1.ª Companhia, 1.ª Companhia2 e Quinta das Celebridades 2; 2006-Doutor, Preciso de Ajuda, Canta Por Mim, Pedro O Milionário, O Meu Odioso e Inacreditável Noivo e Circo das Celebridades; 2007 o primeiro é este A Bela e o Mestre; a SIC Acorrentados, O Bar da TV, Senhora Dona Lady, Esquadrão G) e que mais não são do que autêntico lixo.
Mas voltando ao "A Bela e o Mestre" apraz-me salientar que este programa merece destaque. Merece destaque porque aparece três dias após a comemoração do Dia Internacional da Mulher, sendo que é o maior ataque que tenho visto nos últimos tempos à dignidade da mulher.
Neste programa a mulher é tratada tão só como um simples e mero objecto sexual, desprovida de inteligência, sendo que para este programa somente tiveram que treinar um cruzar e descruzar de pernas, numa imitação rasca e barata do Instinto Fatal 1(Basic Instinct, 1992)da Sharon Stone e achar que a autora de "A Sibila" depois de algumas tentativas era Agustina Bessa Luz(só perceberá este trocadilho quem viu o programa, já que ele está relacionado com pistas dadas pelo apresentador).
Mas se as mulheres ficam mal no retrato, os homens também não ficam melhor.
Os chamados "mestres" são uns tipos pseudo-inteligentes (se fosse inteligentes não estavam ali) com um corpo pior que ruim e que vão ensinar as meninas e ao mesmo tempo sair dali tipo playboy.
Quanto aos apresentadores, não farei uma única referência, porquanto não entendo como é que algém com o mínimo de inteligência se presta a apresentar o programa.
Mas se não falo dos apresentadores, falo do júri.
Um tal qualquer coisa Quevedo que não sei quem é e que fiquei a saber que é argentino de nascença não me merece qualquer referência, para mim não existe sequer.
Os outros três elementos merecem algumas referências.
Não sei o que é que a Marisa Cruz, que eu acho inteligente, está ali a fazer. A sua imagem em nada sai beneficiada, antes pelo contrário.
Quanto aos outros dois elementos, a coisa é mais séria.
Como é que é possível que a Clara Pinto Correia e o Rui Zink se tenham prestado a semelhante papel, só se andarem mesmo mal de finanças e o cachet seja fabuloso, mas mesmo assim eu era incapaz de me "vender".
Nunca mais, a partir deste momento, se poderá reconhecer autoridade moral ao Zink nem à Clara para dissertarem sobre os ataques à dignidade do ser humano.
No que a mim diz respeito esclareço que regressou à estante sem acabar de ser lido o romance "A primeira luz da madrugada" de Clara pinto Correia o que atesta bem a minha decepção.

E por falar em decepção. Decepcionado fiquei hoje ao ler o editorial do DN. No caso de Luís Delgado que no mesmo jornal e num artigo de opinião fala um pouco do mesmo tema já nada me surpreende, aliás só me surpreende ele continuar a ser cronista de coisa nenhuma.
Fico decepcionado porque nenhum diz que a Iñaki De Juana só lhe faltava pouco mais de um ano para cumprir pena pelo crime de ameaças terroristas”.
Estes dois senhores recusaram perceber que esta decisão do governo espanhol, foi uma decisão difícil e que só existiu para não criar mais um mártir da ETA. Porque não haja a menor dúvida que Iñaki não sobreviveria muito mais tempo (encontrava-se em greve de fome à 114 dias).
“Chaos”, como também era conhecido, saiu do hospital madrileno de Doce de Octubre, em direcção a Donostia, no País Basco, onde ficará internado e será alimentado à força até estar em condições de regressar a casa, onde irá cumprir o resto da pena sob vigilância policial.
Gostaria de saber o que é que estes senhores escreveriam se Iñaki de Juana tivesse falecido na prisão?

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