Ontem foi dia de combate. Ontem a Assembleia da República foi palco do habitual debate mensal. O Governo atirou com o último número do déficit e a oposição defendeu-se como pode (mal, acrescente-se) com a Ota, a baixa de impostos, a subida dos juros, o modo como se chegou ao deficit e, na verdade, mais nada. Mas no meio ainda foi possível a alguns fazer malabarismo político.
Antes de continuar devo deixar aqui que o deputado do PSD Miguel Frasquilho deveria ter vergonha e pedir desculpas públicas ao Governo, em vez de optar pela demagogia como fez ontem na Assembleia. E digo isto, porquanto este senhor deputado disse no Parlamento, a 12 de Abril de 2006, que "A continuar tal estado de coisas, das duas uma: ou o objectivo do défice de 4,6% não será cumprido ou então vêm aí mais aumentos de impostos". Ontem queria baixar os impostos, sendo que sobre esta matéria o Governo já tinha falado em 31 de Março de 2006.
Portanto sobre a credibilidade de Frasquilho nestas matérias, estamos conversados.
Mas uma outra situação, também ela ontem ocorrida, merece destaque: refiro-me à intervenção de Santana Lopes.
É verdade que a guerra entre Santana e Mendes já estava acesa e não precisava de nenhum produto inflamante, mas ontem por ficar extremada, sendo que a culpa não se pode atribuir totalmente a Santana, pelo menos desta vez.
O caso é simples e conta-se em poucas palavras.
Após alguma troca de palavras entre Sócrates e Mendes sobre a Ota, Sócrates rematou dizendo "O que é inaceitável é que o sr. deputado enquanto Governo fosse a favor da Ota e agora só por ser da oposição defenda o contrário. Não me desmintam: esta era a posição do PSD".
Claro que Mendes foi obrigado a defender-se dizendo "O PSD não mudou de opinião, escusa de repetir uma mentira várias vezes porque ela não se transforma em verdade". Só que Sócrates tinha trunfos na manga e puxou por eles recordando as declarações dos ex-ministros Valente de Oliveira e de Carmona Rodrigues dos governos anteriores do PSD.
Estando as coisas neste pé, Santana não se conteve, pediu a palavra e disse "De facto, constava do programa de Governo a decisão de prosseguir com os estudos, no sentido da construção do novo aeroporto internacional, ou não, e em que localização. As citações que o sr. primeiro-ministro fez de governos anteriores eu conheço-as e correspondem, obviamente, à realidade".
Resultado KO técnico em Mendes.
Mas claro que nada disto é por acaso. Esta postura de Santana para com Mendes só acontece porque Marques Mendes tem feito questão em não defender por uma vez que seja o governo de Santana Lopes. Portanto, se as coisas correram mal a Mendes e viu-se que correram, fica a devê-las também a ele mesmo.
Curioso também foi verificar a cara dos deputados do CDS/PP (em especial a de Portas), quando Sócrates disse que "pensava que agradecer a Ribeiro e Castro era o mesmo que agradecer ao CDS".
Conclusão: Sócrates saiu de novo triunfal do debate: colheu os benefícios da redução do défice para 3,9 por cento do PIB em 2006, graças à “redução da despesa corrente”, tendo anunciado já que 3,3 por cento é a meta para a diminuição do défice em 2007, inferior aos 3,7 previstos e como se isto não fosse já suficiente ainda embrulhou mais a oposição à sua direita.
Mas ontem não foi só dia de debate, foi também o dia em que se ficou a saber quais os novos juízes que vão integrar o Tribunal Constitucional e, meus amigos, as conversas que ocorreram com o representante do PS e o do PSD deixam no ar alguma borrasca que deverá ser esclarecida com penas de o Tribunal Constitucional sair atingido na sua honra e edificante acção.
Atentem bem no texto que se segue e vejam como sai o TC de tudo isto.
Sobre a polémica gerada na sequência dos socialistas terem protelado sucessivas vezes as negociações com o PSD sobre os nomes dos novos juízes do TC, dado que queriam que a nova lei do aborto fosse aprovada pelos seus actuais membros, Marques Guedes(deputado e líder de bancada do PSD) limitou-se a afirmar que “seria melhor se se tivessem cumprido os prazos”. Ao que Ricardo Rodrigues, vice-presidente da bancada socialista respondeu: “Não quero entrar por aí senão o PSD também teria que explicar muita coisa.”.
Isto é o quê?
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