Para onde vai o Reino Unido. Desenganem-se todos quantos pensaram que o atraso de ontem protagonizado por Gordon Brown se deveu a circunstâncias fortuitas. Existe algo mais para além do fortuito.
A posição do Reino Unido relativamente à União Europeia tem-se pautado por vários estádios.
Edward Heath assinou a adesão à Comunidade Europeia (1973). Logo após a assinatura, James Harold Wilson (que foi primeiro-ministro do Reino Unido entre 1964 a 1970 e 1974 a 1976 pelo Partido Trabalhista) apressou-se a criticar os termos de adesão que considerava nefastos para o Reino Unido, tendo aliás conseguido a renegociação, enquanto primeiro-ministro, em 1975.
Sucedeu-lhe no cargo James Callaghan (entre 1976 e 1979) que manteve relações cordiais com a política europeia.
Com a queda de James Callaghan, sobe ao poder Margaret Thatcher e aí tudo muda.
Esta senhora, conhecida como a dama-de-ferro, é tudo menos entusiasta da União Europeia, sendo por isso que durante o seu mandato (durou desde 4 de Maio de 1979 até 22 de Novembro de 1990) que se verificou não só um afastamento, mas também um forte afrontamento, tendo chegado ao limite com a recusa da união social e política do Reino Unido com a Europa.
Sucedeu-lhe John Major (primeiro-ministro de 1990 a 1997). Com Major, a política relativamente à União Europeia mudou na forma, mas não no conteúdo. Foi com ele que o Reino Unido conseguiu condições especiais aquando da assinatura do Tratado de Maastricht (direito de não adoptar a moeda única europeia, de não participar na política comum das pescas, de manter reservas quanto à política externa e de defesa da União Europeia), apesar de na essência se manter contra a União.
Sai Major, entra Blair.
Anthony Charles Lynton Blair, que ocupa o cargo de primeiro-ministro entre 2 de Maio de 1997 até 27 de Junho de 2007, assume que deseja uma maior integração com a União Europeia. Aliás é Blair que, enquanto presidente no retorno do Conselho da União Europeia, aprova o tratado de Maio de 1998 para a circulação do Euro e que, na sequência das negociações da Organização Mundial do Comércio para a eliminação de barreiras alfandegárias, defende a abolição total das tarifas aduaneiras pela União Europeia para os produtos agrícolas, bem como o fim dos subsídios estatais à produção, ao rendimento e sobretudo à exportação.
Esta posição, que ia ao encontro das pretensões dos países em desenvolvimento como o Brasil, Argentina, Tanzânia, entre outros, potenciaria a entrada daquelas economias nos mercados protegidos europeu e norte-americano. Só que aqui a França opôs-se tenazmente, remetendo para 2013 uma revisão global da Política Agrícola Comum da União Europeia.
Mas desengane-se quem vê nisto uma integração completa do Reino Unido na Europa Unida. Tony Blair achou por bem virar-se para a América, tentando assim ocupar um lugar de destaque no Mundo e de liderança da Europa via América.
Enganou-se redondamente. E mesmo que venha a ocupar o lugar agora criado de presidente da União, ele ficará sempre para a história como o político que caminhou para Washington em detrimento de Bruxelas e que entretanto Bush agraciou, incluindo-o no vídeo de Natal da Casa Branca.
Sai Blair e entra Brown e uma nova etapa começa: a da indiferença.
Brown deseja estar bem com Deus e com o Diabo (quem encarna a figura de quem é um exercício mental que deixo à vossa consideração). Se por um lado não está interessado em enfrentar um número significativo de eurocépticos que existem no Reino Unido, também não está interessado em abrir as hostilidades com Bruxelas porque sabe que não tem a força nem o carisma do seu antecessor.
Sendo assim, optou por chegar atrasado e assinar o Tratado "às escondidas", naquilo que poderemos designar como nim.
Só que a política da ambiguidade não pode durar sempre.
Diz Fernanda Câncio e diz bem.
Sem comentários:
Enviar um comentário