sábado, 20 de janeiro de 2007

Aos 68 anos, morreu ontem à noite, em Lisboa, vítima de doença prolongada, Fiama Hasse Pais Brandão.
Foi poetisa, dramaturga, ficcionista e ensaísta. Viveu numa quinta em Carcavelos até aos 18 anos, tendo então mudado para Lisboa, de onde saiu em 1992 para voltar a viver numa quinta.
Foi aluna do Colégio St. Julian's School, em Carcavelos, durante dez anos e frequentou o curso de Filologia Germânica, até ao 3º ano, na Universidade de Lisboa.
Exerceu crítica de teatro, acompanhou o trabalho do Grupo de Teatro da Faculdade de Letras, estagiou em 1964 no Teatro Experimental do Porto, frequentou um seminário de Teatro de Adolfo Gutkin na Gulbenkian em 1970. Em 1974, foi uma das fundadoras do Grupo "Teatro Hoje", sendo a sua primeira encenadora com Marina Pineda, de Lorca.
Fez pesquisa histórica e literária sobre o séc. XVI em Portugal. Tem feito traduções do Alemão, do Inglês e do Francês, de autores como John Updike, Bertold Brecht, Antonin Artaud, Novalis, Anton Tchekov e do Cântico Maior, atribuido a Salomão.
Revelada, como Gastão Cruz, no movimento Poesia 61, que revolucionou a linguagem poética portuguesa dos anos 60, Fiama veio a demonstrar ser uma das principais vozes poéticas da sua geração. A sua obra caracteriza-se por uma grande densidade da palavra, o uso de uma poesia discursiva, por vezes fragmentária, de grande rigor e depuramento formal, desde Barcas Novas (1967), seu segundo livro, sempre entrelaçando no discurso a metáfora e a imagem. Com a publicação de Obra Breve (1991), Fiama procedeu a uma reorganização de toda a sua obra poética até à data, incluindo inéditos, de acordo com uma ideia de poesia como processo vivo. Como dramaturga, é autora de várias peças, algumas das quais já representadas em Lisboa, Rio de Janeiro e Nancy.
Foi esta a mulher que nos deixou fisicamente.


GRAFIA 1
Água significa ave
se
a sílaba é uma pedra álgida
sobre o equilíbrio dos olhos
se
as palavras são densas de sangue
e despem objectos
se
o tamanho deste vento é um triângulo na água
o tamanho da ave é um rio demorado
onde
as mãos derrubam arestas
a palavra principia

GRAFIA 2
Está no rio
o embrião da noite
O rio livre
com apenas o princípio evidente
de todas as formas
A água íntima dos lábios

GRAFIA 3
Tempo
digitado para as direcções do vento
A orgia dos gráficos nos prolonga
nossos cabelos cronometrados
Ó virgem com pinheiros nos olhos
morte
O ovário contínuo onde escuto os objectos
e os transmito nos dedos
Sem margem delta boca
ó mulher circular permeável ao vento
Virgem com pinheiros nos olhos
fêmea com nervos e dunas iguais a explosões
Invoco a madeira o limo o tempo
e entre ventos construo teu abdómen fixo


Sem comentários:

a isto chama-se comprar votos e ter a felicidade de imprimir papel moeda sempre que é necessário. sabia-se que a carreira de Fernando Araúj...