sexta-feira, 12 de janeiro de 2007

Hoje apetece-me falar um pouco do processo Casa Pia. Ontem foi dia de depor Teresa Costa Macedo, figura que, por certo terá muito que contar, isto a acreditar nas muitas declarações que prestou na altura em que rebentou o escândalo.
Para mim este processo é deveras caricato e porquê? Porque tenho para mim que se muitas crianças houve que foram vítimas de abusos sexuais perfeitamente hediondos, muitas crianças houve também que viram nas relações sexuais que vendiam, davam, enfim que trocavam com determinadas pessoas a única forma de alcançarem aquilo que de outra forma lhes estava vedado. Refiro-me a roupa de marca, relógios, dinheiro sonante, enfim, um sem número de coisas.
Posto isto e para quem tem acompanhado o processo pela comunicação social fica a ideia que este julgamento se destina a "crucificar" o motorista da instituição e dois nomes sonantes da sociedade, pelo meio são metidos mais dois ou três nomes para enfeitar o ramalhete e ponto final.
Eu julgava que esta senhora (Teresa Costa Macedo) e fazendo fé nas múltiplas declarações que produziu anteriormente, iria sentar-se no banco e despejar o saco.
Afinal a montanha pariu um rato.
Esta testemunha que, convém não esquecer, foi secretária de Estado da Família entre 1980 e 1983, é a primeira a confessar que viu uma caixa com as célebres fotografias de que tanto se fala. Disse que “só vi a primeira e a segunda porque fiquei profundamente chocada”, revelando, ainda, não ter reconhecido o adulto que se encontrava na segunda foto, “na prática de actos sexuais com uma criança”. “Não vi Carlos Cruz nas fotografias”, esclareceu Costa Macedo, acrescentando, porém, que segundo o provedor da altura (Baptista Comprido), “havia meninos que diziam que o tinham visto”. A antiga secretária de Estado explicou que as fotos, que estavam numa caixa amarela, foram trazidas pelas educadoras e que ela deu ordens para remeter imediatamente o assunto à Polícia Judiciária.
Ora basta isto para merecer o meu desaprovamento.
Primeiro: das palavras depreende-se que esta senhora viu as fotografias quando estava na Casa Pia, já que ela diz que lhe foram trazidas pelas educadoras;
Segundo: se ficou tão chocada como diz ter ficado porquê não convocou de imediato o provedor da instituição e os dois se dirigiram ao Ministério Público, à Procuradoria Geral da República e entregaram a fotografias (em mão) para ser aberto um inquérito;
Terceiro: deu ordem a quem e como para as fotografias serem remetidas à PJ. Quem as remeteu? Onde andam?
Tanto quiseram embrulhar esta história que hoje estão perante um processo monstruoso, cheio de ditos e contraditos que, das duas uma, ou não vai dar em nada, provocando mais um duro golpe na credibilidade da justiça em Portugal (investigação e instrução incluídas), ou então dá uma porrada enorme nos réus do momento, mas ficando sempre a pairar a ideia de que havia gente bem mais poderosa e que nunca foi nem será chamada à pedra.

Continuando no tema. Ao que parece o director do jornal 24horas foi ontem constituído arguido pelo Ministério Público porque noticiou a rusga que a PJ fez à redacção do jornal no âmbito do caso do "Envelope 9" e publicou fotografias da apreensão de um computador.
Eu penso que só podem estar a brincar! Embora eu também pense que com coisas sérias não se brinca.
Então depois de cometer as gaffes que cometeu neste caso (importa não esquecer que o Tribunal da Relação considerou ilegais quer a busca, quer a apreensão), o Ministério Público tem o desplante de fazer isto?!
Mais, quando foram apuradas coisas em sede de Comissão Parlamentar que deixam qualquer um boquiaberto (por exemplo a "carta branca" dada pelo juiz Rui Teixeira); quando o ex-PGR levou o tempo que levou para realizar um inquérito; quando a assessora do ex-PGR veio dizer que as informações (fugas ao segredo de justiça) que prestou foram mandadas dar pelo ex-PGR, e etc. e etc..
Ora abóbora para estes senhores do MP.
Já agora houve constituição de arguidos quando os órgãos de informação filmaram a ida ao escritório de Nobre Guedes?

Ainda dentro do tema, não resisto a deixar-vos o link de um artigo de hoje do DN que importa ler.

Conhecem os 100 grandes portugueses. É só clicar. Entretanto é importante dizer que este programa é uma cópia de "Os Grandes Ingleses".
A versão portuguesa deste produto inglês vai ser apresentado por Maria Elisa que foi adida cultural em Londres.
Só falta a gente ficar a saber que a RTP ainda pagou à dita senhora pela ideia, o que nada me admira.

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