segunda-feira, 22 de janeiro de 2007

Em anterior comentário aqui produzido coloquei em causa o elevado número de entradas no ensino superior através do sistema de exame da instituição a pessoas com mais de 23 anos. Sinto-me satisfeito por não estar sozinho nesta questão, e a prova disso é que o reitor da Universidade Aberta, Prof. Doutor Carlos Reis, coloca o dedo na ferida numa entrevista que é transcrita no Diário de Coimbra de hoje é que para aqui transponho com a finalidade de lhe introduzir sublinhados (cor) da minha responsabilidade.


“As pessoas ficaram de um momento para o outro mais inteligentes?”

Professor da Faculdade de Letras de Coimbra, reitor, desde 2006, da única instituição superior de ensino à distância em Portugal, Carlos Reis fala das vantagens do “e-learning”, como ferramenta que agiliza a mediação entre a universidade e o estudante, e do plano estratégico definido para a Universidade Aberta até 2010. Em entrevista, critica as “facilidades” no ensino e as perversidades no uso da Internet. O antigo director da Biblioteca Nacional diz, ainda, que se desqualificou muito, nos últimos anos, o valor da exigência e do trabalho

Diário de Coimbra – Entende que a Universidade Aberta (UAb) continua a ser, pela sua especificidade, aquela que tem maior capacidade de atracção de adultos no activo sem formação superior?
Carlos Reis – Esse tipo de público-alvo é, tipicamente, em todos os países, contemplado pelo ensino à distância. Temos condições particularmente favoráveis, sobretudo agora. Enquanto o ensino era feito através de métodos multimédia, era preciso assistir, em muitos casos a uma hora marcada, a uma emissão de rádio ou de televisão. Hoje, ferramentas como o “e-learning” tornam mais ágil o processo de mediação entre a universidade e o seu estudante. E vieram tornar mais acessível o ensino superior a pessoas que não têm tempo, nem vida para estarem no sistema presencial.
DC – Mas a aposta na formação ao longo da vida, que, hoje, todas as universidades têm no horizonte, não lhe irá tirar mercado?
CR – Não creio que as coisas vão a tal ponto que as universidades presenciais passem a ser, em tempo pleno, universidades de ensino à distância. Até porque há matérias que jamais serão acessíveis a ensino à distância. O que vejo é que todas as universidades estão a usar cada vez mais ferramentas de ensino que não existiam há 20 anos.

DC – E o concurso ao ensino superior através do regime para maiores de 23 anos, que agora teve um aumento muito expressivo?
CR – Este regime já existia, para maiores de 25 anos. O que mudou foram as regras de acesso e a avaliação. De tal forma, que é preciso estar muito atento ao fenómeno que se passou: enquanto o exame para maiores de 25 registava altíssimas taxas de insucesso, o exame para maiores de 23 anos, desde que começou a ser feito pelas próprias instituições, regista altíssimas taxas de aprovação. Porquê? Há aqui um fenómeno que nós temos de explicar. Como é que é possível que tenha havido instituições de ensino superior que tiveram 100% de aprovações? É preciso lidar com muito cuidado com esta realidade, porque senão ela desacredita-se.

DC – Entende que foram permitidas facilidades?
CR – Não entendo nada, porque ainda não analisei nada. Estou apenas a olhar para os números, que registaram uma viragem drástica. O que é que aconteceu? As pessoas ficaram, de um momento para o outro, mais inteligentes?

DC – Quando, em Maio, iniciou funções de reitor, disse ter encontrado a UAb desviada da sua missão, muito virada para o ensino presencial.
CR – Isso acontecia sobretudo no ensino pós-graduado. Estamos a procurar impor a noção de que a UAb se rege por modelos pedagógicos de ensino à distância, com recurso às ferramentas e aos métodos que hoje estão disponíveis. E isto é uma alerta para dentro da instituição: esta é a regra do jogo. É preciso entender que em ensino pós-graduado é mais fácil e mais expedito recorrer ao ensino presencial. Mas isso fazem as outras universidades. Nós devemos apostar em modalidades mistas de ensino e, às vezes, de “e-learning” em “full time”.

DC – Há as tais matérias que só são ensinadas pelo método presencial.
CR – É por isso que o nosso elenco de disciplinas e departamentos tem a ver com ciências sociais e humanas, com matemática e gestão, um conjunto de saberes que não tem, no imediato, uma dimensão laboratorial ou de aplicação prática, que em ensino à distância são sempre mais complexas.

DC – Com o recurso privilegiado ao “e-learning”, as emissões televisivas tenderão a acabar?
CR – Não vamos deixar de estar presentes na televisão. Vamos reconverter a nossa presença, já no próximo ano lectivo, deixando de lado o conceito de aula de televisão e apostando mais na divulgação científica e cultural, na problematização das grandes áreas de saber. Para que seja uma espécie de janela de reflexão para o grande público, e já não apenas para o estudante da UAb, no sentido de que nesse grande público se fomente a apetência por uma formação de ensino superior.

DC – Por outro lado, se é fácil estar à frente da televisão, não é tão fácil dominar as tecnologias da informação.
CR – Nós trabalhamos com estudantes às vezes numa fase etária já relativamente adiantada, mas sou optimista quanto à rapidez da info-inclusão em Portugal. É alguma coisa que está a dar passos larguíssimos. Se virmos indicadores quanto à utilização da banda larga, ou quanto ao número de famílias que tem computador em casa, hoje e há cinco anos, os números dispararam. E nós, UAb, temos de fazer um esforço para mentalizar as pessoas, mas também para as ensinar. E por isso, nas 25 acções previstas [para o reitorado, até 2010], há uma que considero importante, que é a preparação do Kit do estudante virtual. Trata-se de dizer ao nosso estudante as competências que deve ter para ser um bom estudante de ensino à distância.

DC – Com 20% de alunos estrangeiros, até onde é que vai a aposta na internacionalização?
CR – Temos de ver que estes alunos estrangeiros (1.851 num total de 8.390 inscritos – dados de 2005/2006) são especiais. São estrangeiros de língua portuguesa. Nós não olhamos para um estudante angolano ou guineense com o mesmo conceito de estrangeiro com que olhamos para um estudante italiano ou inglês. A barreira de língua, desde logo, em boa parte, está resolvida. Agora, tenho uma grande expectativa de que a adequação dos nossos cursos ao Processo de Bolonha acentue o potencial da mobilidade, sendo que a mobilidade não é necessariamente física – a possibilidade de deslocação de um estudante de um país para outro, que já acontecia com os programas de intercâmbio –, mas virtual. Um estudante de cultura portuguesa, austríaco e em Viena, está-se a mover se fizer unidades de crédito na UAb.

DC – Mas será uma mobilidade menos enriquecedora.
CR – Provavelmente. Mas com outras vantagens, nomeadamente económicas.

DC – A UAb pretende também prestar serviços de formação a empresas e a autarquias. Será uma formação que não confere grau, como a frequência de disciplinas isoladas?
CR – Pode falar-se, sobretudo, nisso. É preciso desdramatizar um bocadinho o conceito de grau académico e acentuar a importância das competências formativas das pessoas. É possível que um protocolo que existia entre o Instituto de Emprego e a UAb seja, agora, reactivado e dinamizado. Foi por isso que lancei o desafio para dentro dos departamentos da UAb, para que procurem ofertas pedagógicas que apostem em formações não necessariamente de grau académico, mas que vão ao encontro de necessidades de formação no quadro do conceito de aprendizagem ao longo da vida.

DC – A UAb foi também afectada pelos cortes de financiamento. As propinas terão de aumentar?
CR – Será, se as coisas se complicarem financeiramente, o último recurso a atingir. Até porque há um patamar máximo que está estabelecido e ainda recentemente o ministro da tutela declarou que não se alteraria até 2009. Agora, é preciso não ter ilusões. Cada vez mais se está a deslocar uma parte do orçamento das universidades para o campo das receitas próprias. Onde se incluem as propinas.
Carlo Santos
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Vou utilizar uma parte do comentário feito ontem por Marcelo Rebelo de Sousa para dar resposta à nota que ontem alguém aqui deixou.
Diz Marcelo: "Como é possível regular o poder paternal de um pai biológico que não queria sequer admitir que era pai biológico e que foi forçado à prova do ADN, sem ouvir os que há quatro anos actuam, não direi como pais, mas formando e educando aquela criança?”.
A minha discordância com a justiça que se estabeleceu para este caso advém do facto de não aceitar a acusação de sequestro imputada ao sargento. Aceito subtracção de menor.
Mantenho de que aquele que é forçado pela justiça e que ainda por cima teve de ser acompanhado pela GNR para fazer o teste de ADN deixa muito a desejar como pai. E é por ser pai que digo isto.
Não aceito que o Tribunal Constitucional tenha um recurso para analisar sobre a inclusão dos adoptantes no processo de regulação paternal à dois anos, sem nunca dar resposta.
Não aceito que o pai biológico queira uma indemnização por danos morais.
Um sargento não está acima da lei, mas não tenhamos dúvidas que este sargento com a sua atitude colocou em causa muita coisa e sujeitou-se a destruir por completo a sua vida.
Não entendo que no momento da regulação do poder paternal o casal que tinha a criança não tivesse sido chamado. Regular o poder paternal não é o mesmo que julgar alguém por tráfico, roubo ou assassínio.
Eu fico satisfeito que este caso tenha todo este mediatismo, porque talvez por isso o futuro possa ser mais risonho para muitas crianças.
Eu tenho consciência de que o pai intentou um processo de regulação do poder paternal que ganhou, mas esse processo só nasceu depois de ele ter sido obrigado pelo tribunal e pela GNR a fazer o teste de paternidade.
Para terminar gostaria de deixar aqui um caso verídico que se passou em Coimbra.
Um funcionário de um café pastelaria de Coimbra e a sua esposa tinham em sua casa uma criança que lhes tinha sido entregue pela Segurança Social, criança essa que para eles era um filho. Aliás, como este casal, também foram eles que lhe mudaram as fraldas, acordaram durante a noite com o seu choro, sofreram quando estava doente, enfim fizeram tudo o que muitos pais biológicos não fazem.
Viviam todos felizes até ao dia em que a mãe biológica decidiu interpôr uma acção para reaver a criança.
A Segurança Social e o Tribunal de Família acharam por bem que a criança fosse devolvida aos pais biológicos e assim sucedeu.
A criança era acompanhada(??) pela Segurança Social, mas não obstante morreu vítima de maus tratos (fome, agressões) que lhe foram proporcionados na íntegra pelos pais biológicos.
Recordo a dor que atravessou aquele pai, sim porque ele é que foi o verdeiro pai da criança.

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