segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

Desfaçatez? Desrespeito pelo cidadão? Impunidade? Sinceramente não sei se um se todos. Claro que estou a falar dos radares em Lisboa.
A Câmara Municipal com pompa e circunstância decidiu instalar radares de velocidade em Lisboa.
A imprensa veio para a rua, a Associação dos Cidadãos Automobilizados aplaudiu e os condutores lá foram novamente catalogados de aceleras, assassinos e etc. e tal e sofreram quer com a colocação dos ditos radares, quer com a colocação dos respectivos paineis avisadores. Lamentavelmente não vi ser reforçado quer a vigilância quer a colocação de sinalização a proibir os transeuntes de atravessar fora das passadeiras a olhar antes de atravessar, a atravessar com o sinal vermelho, etc e etc., mas claro isso não interessa, o que interessa é apertar com os condutores.
Entretanto aproveitou-se este mês de Janeiro para extrair as primeiras conclusões. O gabinete da vereadora Marina Ferreira, do pelouro da Mobilidade da Câmara de Lisboa, publicitou que vários automobilistas foram detectados a circular a mais de 200 km/h, tanto na Radial de Benfica como na Segunda Circular, mas nem só aí, porquanto os excessos verificaram-se em todas as vias em que o trânsito é controlado pelos radares (na Avenida Gago Coutinho, onde a velocidade máxima permitida é de 50 km/h, tinha sido detectado um condutor a ‘passear’ naquela via a 165).
Aliás o referido gabinete fez um estudo deveras apurado, tendo fornecido os seguintes resultados:
2.ª CIRCULAR – BENFICA (Sentido O>E)
- Velocidade máxima local: 80 km/h- Velocidade programada no radar: 100 km/h- Velocidade máxima registada: 148 km/h- Infracções: 9.843
RADIAL DE BENFICA (Sentido E>O)
- Velocidade máxima local: 80 km/h- Velocidade programada no radar: 100 km/h- Velocidade máxima registada: 203 km/h- Infracções: 17.387
RADIAL DE BENFICA (Sentido O>E)
- Velocidade máxima local: 80 km/h- Velocidade programada no radar: 100 km/h- Velocidade máxima registada: 218 km/h- Infracções: 19.962
SAÍDA TÚNEL AVENIDA JOÃO XXI (Sentido E>O)
- Velocidade máxima local: 50 km/h- Velocidade programada no radar: 70 km/h- Velocidade máxima registada: 114 km/h- Infracções: 128
SAÍDA TÚNEL AVENIDA JOÃO XXI (Sentido O>E)
- Velocidade máxima local: 80 km/h- Velocidade programada no radar: 100 km/h- Velocidade máxima registada: 204 km/h- Infracções: 1.454
2.ª CIRCULAR – CALVANAS (Sentido O>E)
- Velocidade máxima local: 80 km/h- Velocidade programada no radar: 100 km/h- Velocidade máxima registada: 204 km/h- Infracções: 14.109
AVENIDA GAGO COUTINHO (Sentido N>S)
- Velocidade máxima local: 50 km/h- Velocidade programada no radar: 70 km/h- Velocidade máxima registada: 167 km/h- Infracções: 2.192
PROLONG. AVENIDA EUA (Sentido E>O)
- Velocidade máxima local: 80 km/h- Velocidade programada no radar: 100 km/h- Velocidade máxima registada: 165 km/h- Infracções: 2.847
PROLONG. AVENIDA EUA (Sentido O>E)
- Velocidade máxima local: 80 km/h- Velocidade programada no radar: 100 km/h- Velocidade máxima registada: 195 km/h- Infracções: 3.197
TOTAL DE INFRACÇÕES: 71.029.

A Câmara Municipal começou hoje a retirar os mesmos radares que deram origem ao anterior relatório.
Parece coisa de malucos. Uma coisa tão urgente e importante, que já deu origem a estudos tão avassaladores vai ser retirada?!
É verdade. Vai ser retirada e sabem porquê?
Porque alguém simplesmente se esqueceu que os radares deveriam ser certificados pelo Instituto Português da Qualidade.
É para rir? Não sei, antes desconfio que será para meditar seriamente! É que o põe, tira, põe custa dinheiro e por certo não será tão pouco como isso. Quem é que vai pagar isto? Quem se esqueceu da certificação? Não acredito!
Mais. Qual a fidelidade do relatório anteriormente citado e que serviu para acentuar ainda mais o ónus da culpa nos condutores? A fidelidade é nula. Julgo mesmo mesmo que a Comissão de Protecção de Dados deverá exigir que os registos efectuados e que serviram para a elaboração do relatório camarário deverão ser destruídos.

Quem poderá explicar?! Para Marques Mendes, presidente do PSD, o Executivo socialista de José Sócrates mais não é que “o Governo do enorme PowerPoint”, que passa “o tempo a fazer anúncios e promessas “ mas não mostra resultados. Mendes disse mesmo que o Governo PS só piora o estado da economia e agrava as desigualdades sociais.
Sendo que estas críticas são do maior partido da oposição e que os restantes partidos também alinham pela crítica pura e dura, seria de esperar que o Governo e o partido que lhe dá suporte estivessem com fraquíssimos índices e com as piores sondagens.
Ora as coisas não são bem assim.
Os resultados de uma sondagem da Universidade Católica para o JN, a RTP e a Antena 1, dizem que embora o Governo mereça da maioria dos inquiridos apreciação negativa, a popularidade de quem o dirige só é ultrapassada pela do chefe de Estado, sendo que o partido que o suporta lidera as preferências do eleitorado.
Mais caricato é que só dois em cada dez inquiridos acreditam que o desempenho da oposição seria melhor, o que transforma as ambições do PSD de protagonizar uma alternativa em nada mais do que somente ambições.
Aliás, se as eleições legislativas se realizassem hoje, o PS perderia a maioria absoluta, embora em relação ao estudo de Outubro de 2006 aumente a vantagem sobre o PSD, agora fixada em 7%. Os dois principais partidos perdem influência, em parte a favor do voto em branco. Uma análise mais apurada dos resultados confirma a ideia de que o eleitorado se reconhece no caminho traçado por José Sócrates. Apesar dos sinais de descontentamento, expressos na percepção de 2006 como ano "mau", os inquiridos afirmam-se moderadamente optimistas.
O PSD não é capaz de aproveita a erosão do eleitorado socialista, antes pelo contrário regista uma quebra ainda mais acentuada. A sua eficácia como oposição só é aquilatada por 22% dos inquiridos. Quase metade, aliás, revela-se incapaz de identificar qual o partido que melhor exerce essa função.
Para piorar a situação e em matéria de popularidade, Marques Mendes só vence Ribeiro e Castro.
Convém salientar que esta sondagem foi realizada entre 20 e 22 de Janeiro, pelo que ainda não reflecte a situação da Câmara Municipal de Lisboa, porquanto estou em crer que se a sondagem já tivesse a influência dessa situação, a queda do PSD seria abrupta.

Tinha eu acabado de escrever o texto anterior quando dou por mim a ler a crónica de Luís Delgado no DN.
Crónica após crónica este senhor teima em menosprezar a realidade.
Eu sei que as crónicas e os artigos de opinião reflectem a vontade de quem as escreve, mas que diabo teimar em escrever sem olhar aos factos e aos números que todos os dias nos são dados a conhecer é não só ser cego mas persistir em não curar a cegueira.

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