quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Começou a parvoíce. O líder distrital de Lisboa do PSD, Carlos Carreiras, declarou que do acórdão do tribunal decorre que a dívida estrutural do Município remonta aos mandatos dos socialistas Jorge Sampaio e João Soares.
Claro que a resposta aí está. A Federação da Área Urbana de Lisboa (FAUL) do PS, em comunicado assinado pelo presidente do órgão, Joaquim Raposo, sustentou hoje que o empréstimo pedido pela autarquia socialista da capital e chumbado pelo Tribunal de Contas destinava-se a pagar dívidas dos mandatos do PSD.
Quando começa esta troca de galhardetes é mau sinal e é patético, para além de que a decência devia levar o sr. Carlos Carreiras a estar caladinho e a promover todos os esforços no sentido de que as dívidas sejam liquidadas.
Até porque em matéria de contas as coisas não andam famosas lá pela S. Caetano à Lapa, pelo menos a fazer fé na decisão do Tribunal Constitucional.
E já agora como é que o sr. Carreiras foi capaz de inferir do acórdão do Tribunal de Contas que as dívidas são de Sampaio e de Soares.
E já agora como é que está a Câmara de Ourique, em tempos comandada por Raul Santos, santanista dos quatro costados? Claro é sempre assim. O actual presidente é que se lixa.

Parece que o PSD está completamente dividido na opção política a tomar em relação à declaração unilateral de independência do Kosovo.
A divisão é uma linha que ao que parece veio para ficar.
Tem uma direcção divida. Estão divididos relativamente à nova Lei Autárquica. Estão divididos relativamente à auditoria às contas desde 2001. Estão divididos na questão do casino.
Perante tudo isto o Kosovo é de somenos importância para o PSD.

Ontem deixei por assinalar uma data importante: a da morte de Vitorino Nemésio.
Só que foi um esquecimento consciente. Preferi relembrar o grande ensaísta, romancista, poeta hoje, na data em que se assinala o Dia Internacional das Língua Materna.

Dia Internacional da Língua Materna (UNESCO)

Em 1999 a UNESCO estabeleceu o dia 21 de Fevereiro de cada ano como o Dia Internacional das Línguas Maternas. Esta comemoração impulsinou assim os esforços dessa Organização Internacional para proteger as quase seis mil diferentes línguas existentes ao redor do mundo e, ao mesmo tempo, preservar a diversidade cultural. O Conselho Geral, órgão supremo da UNESCO, reconheceu o papel que tem a língua materna não só no desenvolvimento da criatividade, da capacidade de comunicação e na elaboração de conceitos, como também no facto de que as línguas maternas constituem o primeiro vector da identidade cultural. Em 2000, primeiro ano em que a data foi devidamente comemorada, Portugal não associou ao seu processo de expansão uma política de difusão da Língua, contrariamente a posições adoptadas por outros estados europeus, designadamente Espanha e França, quando as estimativas sobre as 100 línguas maternas mais faladas no mundo (divulgadas em 1999 e disponíveis na Internet (www.sil.org/ethnologue/top100.html) colocavam o Português como a sexta língua materna mais importante, atribuindo-lhe um total de falantes calculado em 170 milhões. Verificava-se, por conseguinte, que o Português figurava entre as dez línguas maternas com maior expansão no planeta, ocupando a posição de terceira língua europeia, com idêntico número de falantes ao do Russo.

E porque «A minha Pátria é a minha Língua» aqui fica a boa nova de que foi hoje editado o primeiro manual de apoio pedagógico ao mirandês " Las mies purmeiras palabras an mirandés." (As minhas primeiras palavras em mirandês).
E para terminar uma poesia de Vitorino Nemésio

Semântica Electrónica
Ordeno ao ordenador que me ordene o ordenado
Ordeno ao ordenador que me ordenhe o ordenhado
Ordinalmente
Ordenadamente
Ordeiramente.
Mas o desordeiro
Quebrou o ordenador
E eu já não dou ordens
coordenadas
Seja a quem for.
Então resolvo tomar ordens
Menores, maiores,
E sou ordenado,
Enfim --- o ordenado
Que tentei ordenhar ao ordenador quebrado.
--- Mas --- diz-me a ordenança ---
Você não pode ordenhar uma máquina:
Uma máquina é que pode ordenhar uma vaca.
De mais a mais, você agora é padre,
E fica mal a um padre ordenhar, mesmo uma ovelha
Velhaca, mesmo uma ovelha velha,
Quanto mais uma vaca!
Pois uma máquina é vicária (você é vigário?):
Vaca (em vacância) à vaca.
São ordens...
Eu então, ordinalmente ordeiro, ordenado, ordenhado,
Às ordens da ordenança em ordem unida e dispersa
(Para acabar a conversa
Como aprendi na Infantaria),
Ordenhado chorei meu triste fado.
Mas tristeza ordenhada é nata de alegria:
E chorei leite condensado,
Leite em pó, leite céptico asséptico,
Oh, milagre ordinal de um mundo cibernético!
Vitorino Nemésio

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